Moradora de Bruxelas há quase 20 anos, a jornalista brasileira Samla da Rosa, 53, estava no trem do metrô que foi atingido em um dos atentados na manhã desta terça-feira.
Ela estava no vagão à frente dos que foram destruídos pela explosão. “Tínhamos medo de outra explosão e estávamos certos de que íamos morrer”, conta.
“A solidariedade nessa hora é imensa. Agarrei uma moça que estava queimada no rosto e chorava muito. Ela não conseguia sair do lugar. Eu amparei-a e falei: vamos sair, não vamos morrer”, diz ela.
Os ataques a bomba em Bruxelas deixaram pelo menos 30 mortos – 20 deles no metrô, de acordo com o prefeito da cidade.
O nível de alerta para terrorismo foi elevado ao máximo. A ação ocorreu dias após a prisão, em Bruxelas, de Salah Abdeslam, principal suspeito pelos ataques de Paris em novembro.
Em entrevista à BBC Brasil, Samla contou que o vagão no qual se encontrava estava lotado, e os passageiros rapidamente se deram conta de que se tratava de um atentado.
“Foi um desespero. Imediatamente os paramédicos chegaram. Eu tive apenas intoxicação”, relata. “Eles (paramédicos) estavam correndo para os mais feridos. Tinha muita gente queimada. Ninguém fez lista de vítimas. Só os mais feridos ficaram lá”, afirmou, já em sua casa.
“Amigos, hoje vivi um momento daqueles que tentamos entender… mas é muito difícil. Eu estava no trem do metrô que sofreu o atentado. Ia de casa ao centro de Bruxelas.
O trem já havia dado partida da estação Maalbec. Tudo se passou muito rápido. A explosão foi surda e só nos demos conta que estávamos no meio de um atentado quando os vidros das janelas caíram sobre nossas cabeças e vimos fogo do lado de fora do trem, além de trilhos destruídos. Alguns gritaram de pânico: ‘é um atentado terrorista’. Eu e as pessoas sentadas à minha frente nos deitamos no chão e nos abraçamos. Tínhamos medo de outra explosão e estávamos certos de que íamos morrer.
Alguém reagiu e gritou que tínhamos que sair dali porque íamos morrer sufocados pela fumaça. Pouco a pouco começamos a pular a janela do trem, protegendo o nariz para não respirar aquele ar sufocante. As portas estavam bloqueadas. Quando saí dei-me conta que haviam muitos feridos, os outros vagões de trás do nosso estavam destruídos… a esta altura, a fumaça já havia tomado tudo.
O condutor do trem falava ao rádio e mostrava ferimentos ao rosto. Dizia que havia evacuado seu trem e ia começar a guiar as pessoas para fora da estação. Ele começou a abanar sua pequena lanterna para mostrar o caminho. Não conseguíamos ver nada, porque a fumaça era muito forte. Alguns degraus da escada rolante faltavam por causa da explosão e a gente tentava encontrar a saída.
A solidariedade nessa hora é imensa. Um abraça o outro. Eu agarrei uma moça que estava queimada no rosto e chorava muito. Ela não conseguia sair do lugar. Eu amparei-a e falei: vamos sair, não vamos morrer. Deixei-a nas mãos dos paramédicos ao lado de fora e espero que ela um dia consiga ter uma vida normal.
Finalmente estávamos todos lá, na calçada. A polícia começou a chegar e logo fomos cercados por ambulâncias. Muitos feridos, gente queimada e um braço solto na calçada que jamais esquecerei. Colaborou Marcia Bizzotto, de Bruxelas para a BBC Brasil