Deputados não sabem no que votaram na PEC 241, diz Júlio Delgado (PSB). Nem a população, diz opositor Alessandro Molon (Rede)
O deputado mineiro Júlio Delgado, do PSB, apoiou o impeachment e pertence à base aliada de Michel Temer. O carioca Alessandro Molon, da Rede, boicotou o impeachment e faz oposição ao governo. Hoje, eles têm algo em comum. Votaram contra congelar por 20 anos os investimentos federais em saúde e educação, a chamada PEC 241, principal bandeira econômica de Temer.
“Os deputados não sabem no que votaram. A PEC resolve um problema fiscal do governo, mas por trás de números existem pessoas. Não dá para pagar juro da dívida pública e ignorar as pessoas”, afirma Delgado. “A população acha que é corte de gastos para os políticos e não é. É com remédio e professor”, diz Molon.
A proposta tem sido debatida com o rótulo de “teto de gastos”. É o que leva Molon a pensar que a população não se deu conta do que se trata. Afinal, quem seria a favor de gastança de verba pública? Sem compreender que “teto de gastos” significa que faltará dinheiro novo para saúde e educação por 20 anos, não houve pressão popular sobre os deputados, só o governo os pressionou, explica.
Delgado foi um participante ativo em Minas Gerais da recente eleição municipal e viu de perto o estado de escolas e hospitais públicos, os mesmos que serão sacrificados pelo congelamento de verbas sociais, as quais serão reajustadas apenas pela inflação oficial (IPCA) durante duas décadas, caso a PEC vingue. Para ele, prefeitos recém-vitoriosos podem se preparar para o pior.
Na saúde, a situação será mais grave, na opinião dele. No setor, a variação de preços é maior do que a inflação oficial – insumos de remédios sobem mais, salário de médico idem. E será o IPCA o índice usado para aumentar repasses federais a municípios pelo SUS. Os prefeitos, afirma Delgado, terão de gastar cada vez mais com saúde, vai sobrar pouco para outras áreas.
Opinião semelhante à do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, cujo partido, o PSDB, votou 100% a favor da PEC na Câmara. Em debate na Bolsa de Mercadorias e Futuros em setembro, Alckmin defendeu que os gastos públicos seguissem o crescimento econômico também. Do contrário, “vai ter problema na saúde, vai ter de mudar o SUS, e vai cair nas costas dos estados e prefeitos”.
Por ter se perfilado a Molon e aos deputados contrários ao congelamento das verbas sociais, Delgado agora será um governista monitorado pelo Palácio do Planalto. Em entrevista nesta terça-feira 11 a uma rádio, o chefe da Casa Civil de Temer, Eliseu Padilha, avisou: dissidentes serão tratados de forma diferente daqui em diante.
O Planalto de fato jogou duro para aprovar ao congelamento, proposta destinada a garantir que o pagamento de juros da dívida não será ameaçado no futuro. Dois ministros-deputados, Bruno Araújo (Cidades) e Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), foram exonerados para voltar à Câmara e evitar que seus suplentes, ambos do PSB de Delgado, votassem contra a PEC 241.(fonte:carta capital)