Após críticas de Bolsonaro, pasta quer fazer material separado para grupos de 10 a 14 anos e 14 a 18 anos.
Após críticas do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse nesta terça-feira (12) que o governo estuda fazer um novo modelo de caderneta de saúde do adolescente separado por diferentes faixas etárias.
“O que vimos é que ficou uma linguagem única, e a adolescência é um período muito vasto. O início da adolescência não é uma data matemática. Há meninas de dez anos já com menarca [primeira menstruação] e meninas de 14 anos que ainda estão terminando sua infância”, disse.
Segundo ele, uma possibilidade em estudo é trabalhar com um modelo para o que chama de “primeiro ciclo da adolescência”, que se estenderia dos 10 aos 14 anos, e outro para adolescentes de 14 a 18 anos. “Isso será analisado pela equipe”, afirmou ao chegar para um seminário de primeira infância.
Lançada em 2008, a caderneta de saúde do adolescente é indicada para adolescentes de 10 a 19 anos.
Com cerca de 40 páginas, o material traz informações sobre cuidados básicos à saúde e transformações do corpo, além de orientações sobre prevenção da gravidez na adolescência e de doenças sexualmente transmissíveis.
Em vídeo divulgado na última quinta, Bolsonaro disse ter recebido um vídeo de uma mãe que reclama do material, o qual teria sido entregue à sua filha de 9 anos.
No vídeo, ele chama o documento incorretamente de “caderneta de vacinação” e faz críticas. “Tem muitas informações boas aqui, precisas. Mas o final dela fica complicado no meu entendimento”, diz, sugerindo que pais rasguem páginas com figuras que orientam sobre o uso da camisinha, por exemplo.
Em seguida, ele diz que a caderneta será recolhida e substituídas por outra, “menor, mais barata e sem essas figuras”.
Questionado nesta terça, Mandetta disse que o material “cumpriu seu papel” e deve ser revisto.
“É uma cartilha muito antiga que cumpriu seu papel. Mas entendo a posição da mãe da criança em que a família se sentiu agredida pelo conteúdo”, afirmou. Para ele, pode estar havendo um “mau uso” do material.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, a ex-coordenadora de saúde do adolescente Thereza de Lamare disse que o material passou por dois anos de discussões e por testes-piloto em cinco cidades antes de ser distribuído.
Ela classifica a decisão de recolher a publicação como um equívoco. “A questão da camisinha faz parte da vida real. Uma hora os adolescentes vão ter relação sexual, e é melhor que tenham de forma segura”, disse.
Para Lamare, é um erro achar que orientar sobre o uso de camisinha representa um incentivo à atividade sexual.
“As pessoas têm a visão de que, se não falar sobre isso, está protegendo o adolescente. Mas as pesquisas mostram o contrário”, afirma. “Os adolescentes estão vivenciando isso e têm dúvidas. Eles sabem as coisas, veem na internet. Precisamos garantir que tenham acesso à informação correta.”
Notícias ao Minuto.