Candidata da Rede à Presidência da República participou de sabatina promovida pelo jornal ‘O Estado de S. Paulo’. Ela disse que armar a população é transferir uma responsabilidade do Estado.
A candidata da Rede à Presidência da República, Marina Silva, disse nesta terça-feira (28) que não se resolve o problema da violência “distribuindo armas para a população”. Para ela, essa medida equivaleria a entregar o cidadão indefeso à própria sorte.
Marina debateu propostas de governo em sabatina promovida pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, realizada em parceria com a Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em São Paulo.
O evento teve um bloco único de duas horas de duração em que a candidata respondeu a questionamentos dos entrevistadores e da plateia.
“Não se vai resolver o problema da violência distribuindo armas para a população. Aqueles discursos que parecem os mais arrojados, aqueles discursos que parecem os mais fortes, entre aspas, são os mais frágeis”, afirmou Marina.
O tema do armamento é uma das plataformas de campanha de um dos rivais de Marina ao Palácio do Planalto, o candidato Jair Bolsonaro (PSL).
Para Marina, a medida seria transferir a segurança pública, que na opinião dela cabe ao Estado, para o cidadão.
“Você dizer que quer ser presidente da República para entregar a população à própria sorte? Dizendo que, se ela quiser resolver o problema da violência, que compre uma arma e se defenda? Para que então que se quer ser presidente da República? O Estado tem o monopólio da força e não se pode transferir para cidadão indefeso a possibilidade de se defender, defender a sua família, defender a sua empresa. Isso é justiça com as próprias mãos”, disse Marina.
Placas solares
Marina voltou a apresentar a proposta de construir 1,5 milhão de casas com placas solares. Ela explicou que os recursos para a medida viriam da verba hoje gasta em termoelétricas.
“Vamos ampliar a energia solar com 1,5 milhão de tetos solares, com placas solares. Nós temos investimentos que são feitos, por exemplo, em termoelétrica, a carvão, a diesel e a gás. Uma boa parte desses recursos pode ser deslocada para investimento numa matriz energética limpa, segura. É uma questão de prioridade de escolha”, afirmou.
Marina foi questionada sobre como avalia a atuação de ONGs na Amazônia. De acordo com ela, as entidades acabam por cumprir o papel do Estado, que não chega à região.
“Conheço uma Amazônia que, em muitos lugares, tem zero Estado, zero médico, zero delegado, zero Ministério Público. Eu venho dessa Amazônia profunda. Em pleno século 21, você encontra uma Amazônia que não tem a presença do Estado em nada. Vejo muita gente preocupada com essa história das ONGs. Quero um país onde estado não seja substituído nem por ONGs nem por empresas, mas que ele possa trabalhar com eles”.
Governabilidade
Marina Silva disse que, se eleita, considera que não terá dificuldades para governar, apesar de ter uma coligação pequena, formada por Rede e PV. Ela avalia que conseguirá apoio suficiente do Congresso Nacional para aprovar matérias de interesse do governo.
“Que a maioria no Congresso se faça com base no programa. É assim que as democracias evoluídas fazem”, disse. E acrescentou: “Meu problema não é governar, é ganhar [a eleição]”.
A candidata criticou o presidencialismo de coalizão, em que o governo troca apoio da base por cargos políticos.
Ela propôs que a política no país seja regida por um “presidencialismo de proposição”, com a formação de alianças em que a referência passam a ser o programa e as propostas. “Fazer alianças pontuais, isso é maturidade democrática”, ponderou.
Para Marina, há pessoas capacitadas em todas as legendas. Ela disse que pretende dar espaço em seu governo a quadros de outros partidos. “Eu vou governar com os melhores de todos os partidos”, afirmou.
Reforma política
Marina reiterou ser a favor do fim da reeleição para presidente da República e da ampliação do mandato presidencial de quatro para cinco anos de duração, a partir de 2022.
No caso do mandato de parlamentares, a candidata sugeriu que eles tenham a possibilidade de apenas uma reeleição. “Isso não é emprego, é serviço”, disse.
Ela também se disse favorável à criminalização do caixa 2 (dinheiro de campanha eleitoral não contabilizado oficialmente). Atualmente, a prática não é tipificada como crime, sendo enquadrada apenas na legislação eleitoral, com penas mais brandas. “Esses crimes devem ser punidos com rigor”, afirmou Marina.
Reforma trabalhista
Como tem feito em falas recentes, Marina voltou a afirmar a necessidade da reforma trabalhista. Mas reiterou que, se eleita, mudará pontos da lei atual, como o trabalho intermitente.
“Em relação à reforma trabalhista, vamos rever os pontos inaceitáveis da reforma. Ouço muita gente dizendo que é modernizar as relações de trabalho. Mas na reforma trabalhista tem pontos que são pré-modernos, como uma mulher [grávida] trabalhar em condições insalubres, uma pessoa ter apenas meia hora para se alimentar, trabalho intermitente, em que pode ficar meses sem ser chamado mas conta como se tivesse empregado”, argumentou a candidata.
G1 Tocantins.