Márcia Zaccarelli alegou que a filha recém-nascida morreu nos braços dela, enquanto ela a segurava contra o peito para que o companheiro não a tomasse. Homem não compareceu ao júri.
A professora Márcia Zaccarelli Bersaneti, de 37 anos, acusada de matar a filha recém-nascida e guardar o corpo em um escaninho por cinco anos, disse durante júri popular, nesta quarta-feira (1°), que a morte da bebê foi acidental e que a ideia de esconder o corpo foi do ex-companheiro, Glaudson de Souza Costa. A mulher afirmou que a menina morreu nos braços dela, enquanto ela a segurava contra o peito para que o marido não a tomasse.
A ré deu à luz uma menina no dia 15 de março de 2011. A filha foi fruto de um relacionamento extra-conjugal com um colega de trabalho. O marido de Márcia não podia ter filhos por já ter feito vasectomia. Quando ela começou a sentir contrações, ela ligou para um amigo que a levou para o hospital. Esse amigo ainda deu R$ 3 mil para que a professora fizesse o parto cesárea.
“Meu ex-marido sabia de tudo, que eu estava grávida. Quando eu saí do hospital por não ter mais dinheiro para continuar lá, fui para uma praça. O Glaudson me ligou e me encontrou lá. Ele tentou a todo custo retirar a minha filha dos meus braços, e eu apertava ela contra o meu peito para protegê-la. Ficamos um tempo nessa briga até que fomos para casa. Quando eu cheguei, percebi que minha filha não estava mais respirando. Nesse momaento o Glaudson só ficou rindo.
“Eu não queria matar minha filha. A ideia de colocar no escaninho foi dele, que não queria se desfazer da prova, porque era uma forma dele me manter com ele”, disse a mulher.
O ex-marido de Márcia foi arrolado como testemunha do júri, mas não foi localizado para ser intimado e não compareceu ao julgamento. O G1 não conseguiu localizar a defesa dele até a última atualização desta reportagem.
O júri popular começou por volta de 9h desta quarta-feira, no Tribunal do Júri de Goiânia. A professora foi presa no dia 9 de agosto de 2016, quando o ex-marido encontrou o corpo do bebê no escaninho do prédio em que a mulher morava. Após ser detida, confessou em um vídeo que a matou e escondeu o cadáver no local (veja abaixo).
A defesa alega que, no momento do crime, ela sofria de um transtorno psicológico. Já o Ministério Público defende que ela é totalmente apta para responder por seus atos e pede a condenação dela pelo homicídio.
“O que aconteceu foi um infanticídio. Ela sofria de uma psicose neural, estava muito abalada porque sofria agressões do marido e do amante, então não tinha estrutura financeira, psicológica e emocional”, disse o advogado dela, Paulo Roberto Borges da Silva.
O Ministério Público discorda da alegação do advogado. “Um laudo da junta médica aponta que ela era perfeitamente capaz de responder pelos atos na época do crime. A ré não apresenta uma versão única para os fatos, já mudou algumas vezes. Mas temos provas suficientes para pedir a condenação pelo homicídio”, disse o promotor José Eduardo Veiga Braga Filho.
Durante o julgamento, Márcia disse que a bebê era fruto de uma relação extraconjugal que ela havia tido. Ela afirmou que tanto o marido, quanto o amante, sabiam da gravidez, mas nenhum deles queriam assumir a filha e haviam pedido para ela praticar aborto. A professora se recusou a fazer o aborto.
Segundo Márcia, quando ela entrou em trabalho de parto, o marido disse que ela “sumir e dar um jeito” na criança.
“Eu jamais abortaria. Quando eu entrei em trabalho de parto, o Glaudson disse que era para eu sumir e dar um jeito na criança, não voltar para casa com ela, porque ele não passaria por essa vergonha”, disse durante o depoimento.
A mulher disse que era mal tratada pelo ex-companheiro e que o homem só denunciou o caso à polícia para que, no processo de separação, ela não tivesse acesso aos bens do casal.
“Ele me tratava feito lixo. Eu queria me separar, a relação era péssima, era agredida. Mas eu não tinha condições de sair”, contou.
A filha de Márcia Zaccarelli também prestou depoimento. A adolescente de 14 anos relatou que sentia medo do seu padrasto, Glaudson, porque, segundo ela, era um homem que fazia a mãe dela sofrer.
“Ele me tratava com indiferença e era agressivo com minha mãe. Gritava com ela, batia. Em 2015, quando ele descobriu uma suposta traição, me bateu, machucou minha mãe. Eu não gostava dele porque sempre via minha mãe chorando pelos cantos”, relatou.
Ao final do depoimento, Márcia contou que ia diariamente ao escaninho para ver o corpo da criança. “Eu a arrumei bonitinha, queria que ela ficasse protegida. Todo dia eu ia, rezava para ela, pedia perdão. Até escutava a vozinha dela conversando comigo”, disse, chorando.
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Um vídeo feito pela Polícia Civil mostra o depoimento da professora após a prisão. Na gravação, ela deu detalhes de como cometeu o crime e diz que não queria fazer mal à criança. No entanto, descreveu como asfixiou o bebê.
“Na rua, andando, eu não sabia mais o que fazer. Ela começou a chorar. Estava começando a chover. Eu olhava para ela, depois ela dormiu de novo [respira fundo]. Apertei o narizinho dela”, disse na ocasião.
No registro, a mulher chora por diversas vezes. Quando deixou a maternidade com a filha nos braços, a mulher contou que pegou um táxi e parou em uma praça “sem saber o que fazer”.
Nesse momento, alegou que não tinha intenção de matar a filha, mas diz que ficou com “medo”.
Logo em seguida, a mulher afirmou que tem consciência do que fez, mas que é uma boa pessoa. “Eu sei que feri alguém, mas o senhor pode me perguntar, sou uma excelente mãe e sempre fui”, comentou.
G1 Tocantins.