No derradeiro dia de agosto, o Senado acaba de depor a presidente constitucional Dilma Rousseff.
A conspiração comandada por suspeitos e acusados dos crimes mais cabeludos derrubou uma mulher inocente, contra quem inexiste indício de ter se apropriado de bens públicos.
O capo do conluio no parlamento, o correntista Eduardo Cunha, permanece protegido por seu mandato na Câmara.
O julgamento farsesco evidenciou que a presidente não cometeu crime de responsabilidade. É possível que o depoimento mais esclarecedor tenha sido o do professor Luiz Gonzaga Belluzzo.
Impeachment sem crime de responsabilidade constitui golpe de Estado, com ou sem blindados e tropas nas ruas.
Governo ruim não configura crime de responsabilidade. Deve ser derrotado pelos cidadãos, em eleições diretas.
Um colégio de 81 senadores violentou a soberania do voto popular. Em 2014, 54.501.118 brasileiros sufragaram Dilma.
Assume de vez o Planalto quem não se elegeu presidente, e sim vice.
O missivista Michel Temer encabeça um governo de enrolados na Operação Lava Jato, sem ministra, sem ministro negro, com venda de patrimônio nacional e intenção de fulminar conquistas dos pobres.
O governo Temer nasce irrevogavelmente ilegítimo.
O golpe vagabundíssimo de 2016 é mais um na história do país.
A República, em 1889, foi proclamada num golpe.
Idem o governo imposto pelo golpe de 1930.
Seu chefe, Getulio Vargas, sapecou mais um golpe, em 1937, introduzindo a ditadura do Estado Novo.
Foi destituído por outro, em 1945.
Depois de Getulio regressar ao Catete bafejado pelas urnas, liquidaram-no numa madrugada de agosto de 1954 com uma dita licença do cargo. O golpe foi revertido pela bala no peito.
Em 1964, o golpe adiado por uma década depôs o presidente João Goulart e pariu a ditadura de 21 anos que barbarizou com golpes dentro do golpe.
O golpe de 2016 é o maior retrocesso da democracia brasileira nos últimos 52 anos.
Frustrou-se a esperança de que prevaleceria a vontade expressa nas urnas.
No lugar das diretas, indireta.
Na democracia, presidente se escolhe com o voto dos cidadãos.
Nessa tarde trágica, em tempos tormentosos, Renato Russo ecoa de novo: ”Hoje a tristeza não é passageira. (…) E quando chegar a noite cada estrela parecerá uma lágrima”.(fonte:blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol)