Em dez anos, foram 14 milhões de metros quadrados de aumento na área construída. Mobilidade é um dos principais problemas que afetam moradores de novos bairros
Em dez anos, Goiânia se esparramou e subiu. Cresceu mais de 14 milhões de metros quadrados em área construída. Em 2006, um goianiense tinha uma média de 20 metros quadrados de área construída para usufruir, hoje tem 28 metros quadrados. Na prática, porém, isso não fez com que morássemos em locais mais amplos ou tivéssemos áreas de lazer maiores. Pelo contrário: enquanto a cidade alargou as periferias, o crescimento na Região Centro-Sul foi para cima.
O POPULAR verificou imagens aéreas de vários pontos de Goiânia em 2006 e em 2016 para analisar o que mudou na capital neste período considerado curto para o desenvolvimento de uma metrópole. As diferenças, no entanto, são significativas. Parques que não existiam, como o Flamboyant, se tornaram conglomerados urbanos, e regiões que não tinham qualquer relação com a cidade são bairros prontos, como o Jardins do Cerrado.
Para o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, dez anos é um tempo razoável levando em conta que o período entre 2006 e 2016 foi de crescimento econômico e expansão natural das cidades. Assim mesmo, as mudanças são impressionantes para ele.
Alves defende que a cidade adensada representa um ganho na eficiência ao apresentar uma mesma estrutura para mais pessoas. “O problema é o carro. Se houvesse transporte coletivo eficiente, seria ótimo, assim como as demais estruturas.” O exemplo é o Residencial Eldorado, que nestes dez anos atingiu estrutura residencial muito grande. Só se chega lá pela Avenida Milão, e os moradores têm de realizar grandes deslocamentos diários.
A vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), Maria Ester de Souza, acredita que o adensamento funciona quando se tem planejamento. O problema passa a ser a qualidade de vida das pessoas, que podem querer, por exemplo, morar em um lugar mais calmo, mais frio e mais verde. Mas a realidade de Goiânia, para ela, é de descompasso na permissão do uso do solo: a verticalização não leva em conta a formação da ilha de calor, mas apenas o valor econômico.
Paulo Renato Alves concorda que o adensamento deve ter um limite e, neste sentido, a Secretaria Municipal de Planejamento e Habitação (Seplanh) deve acompanhar a questão por meio de estudos de impacto de vizinhança.
O secretário Sebastião Ferreira Leite, o Juruna, afirma, no entanto, que isso é feito, mas admite que há um descompasso entre as velocidades do Poder Público e da iniciativa privada, que sempre chega primeiro aos locais, antes mesmo que a estrutura fique pronta ou ao menos projetada. Para ele, o crescimento da cidade nos últimos anos corresponde ao que está no Plano Diretor da capital do Estado.
Residencial Eldorado (2006) – Fruto do desenvolvimento do mercado imobiliário em Goiânia, foi iniciado próximo ao Parque Oeste Industrial. Em 2006, a praça da Avenida Milão já estava tomada de prédios.
Residencial Eldorado (2016) – Após dez anos, são seis quadras apenas de condomínios verticais. Tornou-se uma centralidade ainda incipiente, com espaço para crescer a Oeste.
Parque Vaca Brava (2006) – Construído em 1996, não recebeu grande ocupação até 2006, sendo que a Avenida T-63 era o grande atrativo local.
Parque Vaca Brava (2016) – A mudança é visível a partir de 2006, quando o parque passa a ser o destaque e começa a ser envolvido pelos condomínios verticais de alto padrão, e ainda há novos prédios sendo finalizados.
Jardins do Cerrado (2006) – Em 2006 era só uma área sem qualquer menção a um bairro. Esta foto é de 2009, quando os residenciais foram instalados na região.
Jardins do Cerrado (2016) – Atualmente, o bairro só cresceu em número de moradias, mas sem qualquer estrutura. Nem mesmo setores vizinhos estão próximos. Os moradores ficam isolados.
Parque Cascavel (2006) – Em 2006 não havia qualquer plano de expansão para a região, o que foi iniciado em 2009.
Parque Cascavel (2016) – No início, foi comparado com o Parque Flamboyant pelo mercado imobiliário, mas os problemas ambientais no local levaram a um adensamento mais lento, embora bem presente, como se pode observar nesta imagem.