Os corpos enterrados na área da cozinha da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (Roraima), foram encontrados nesse sábado (7) após denúncia de Simone Alves, mulher de um dos detentos. Depois de uma varredura, forças de segurança do presídio encontraram os dois corpos, que devem ser liberados hoje (8) pelo Instituto Médico-Legal.
Os detentos apelidaram de cozinha um pátio onde vivem em barracas. Com isso, subiu para 33 o número de mortos no presídio, na madrugada de quinta (5) para sexta-feira.
“Me ligaram e confirmaram. Desde de [sexta-feira], já tinham falado: “Simone, o ‘seu’ Jaime tá morto. Cavaram um buraco aqui e enterraram ele. Eu fiz foi ver”. E o estado de Roraima sabe que tem celular lá dentro. Então me ligaram e me falaram que o meu marido tá enterrado lá dentro, na cozinha. E o que tá faltando para desenterrar o meu marido, gente?, disse Simone ao fazer a denúncia.
A Secretaria de Justiça e Cidadania, responsável pelo presídio, chegou a negar, mas a confirmação veio pouco tempo depois com o secretário adjunto, major Francisco Castro.
“Havia uma informação de que haveria mais dois detentos mortos no local. Foi feita a varredura pelos policiais e pelos agentes e, de fato, localizados dois detentos, que estavam enterrados na dependência da ala”, afirmou o major.
Ele nega que tenha havido negligência por parte da perícia na vistoria anterior. “Depois do evento que ocorreu, todo o presídio foi inspecionado, só que é de praxe. Toda vez que ocorre um evento crítico, várias inspeções são feitas, justamente para que a gente tenha a certeza de que possam ter ocorrido mais mortes”.
O primeiro sábado do ano foi de muita espera para dezenas de familiares de detentos mortos na Penitenciária Monte Cristo. Durante todo o dia houve aglomeração em frente ao Instituto Médico-Legal, de pessoas em busca de informações sobre os parentes.
O IML não confirmou a identificação de 28 mortos, entre os 31 que já haviam sido encaminhados para o Instituto. Pelo menos 17 corpos já foram liberados para as famílias.
Segundo o perito do Instituto de Identificação de Roraima, Lucas de Farias Rodrigues, o trabalho é demorado por causa do estado em que os corpos chegaram ao IML. Dos 31 corpos, 15 estavam sem cabeça e outros tiveram braços e pernas arrancados.
“As digitais já foram levantadas, elas estão na ficha, e esses fragmentos, essas identificações são inseridas no nosso banco de dados. Isso é o que está sendo aguardado. Aí, à medida que vão sendo trazidos, vamos confrontando e dizendo que aquela digital é daquela pessoa; vamos devolvendo para o IML e o IML vai devolvendo às famílias”.