“Segunda-feira, eu resolvo tudo. Vamos acabar com essa ocorrência, entendeu? Eu resolvo tudo. Segunda-feira vai fazer sol. Está ventando hoje”, disse Chavarry a um dos policiais que o abordaram. Este, enquanto gravava a cena com o celular, responde que não está entendendo e o coronel prossegue: “Segunda-feira, eu resolvo tudo. Quero saber sua escala. Você vai me procurar e eu vou te procurar. Você e o seu parceiro. Tá certo? Fica atento para acabar com essa ocorrência, tá? Dentro das normas”.
A investigação aponta que várias testemunhas declararam que Chavarry costumava andar acompanhado de crianças. Durante a abordagem, uma mulher disse aos policiais que ele cuidava dessa menina de dois anos e de uma outra de 12. Outra mulher informou que ele pagava para sair com elas. Uma outra testemunha, que trabalha perto da lanchonete onde ele foi preso, declarou que já tinha visto o coronel acompanhado de meninas em outras ocasiões. Segundo o jornal O Dia, foi uma funcionária da lanchonete quem se alarmou quando entregou o lanche ao acusado no carro e viu a menina nua. “Ela voltou ao caixa assustada e falou com a gente. Disse que a menina estava nua, de pernas abertas, e que não foi a primeira vez que viu esse homem aqui. No outro dia, era um menino”, contou ao jornal outra funcionária.
A menina foi levada ao coronel por Thuanne Pimenta dos Santos, de 23 anos, que teve a prisão temporária decretada. O irmão dela é casado com uma tia da criança. A jovem, que fazia serviços de faxina para o coronel, não deixou claro o que ela fazia com a criança, enquanto a mãe dela trabalhava, nem por que a deixou nas mãos do militar. “Ela entrou em múltiplas contradições durante o depoimento, mas há indícios de que ela entregou a criança propositalmente ao coronel”, explica a delegada responsável pelo caso, Cristiana Bento. Thuanne também trabalhou para Chavarry distribuindo panfletos quando este resolveu se candidatar, sem sucesso, a deputado federal pelo Partido Social Liberal (PSL) em 2014.
A Polícia Civil investiga agora se há mais pessoas envolvidas e se o coronel pode formar parte de um esquema muito maior de tráfico de crianças. “Pense na quantidade de meninos e meninas que desaparecem todo ano. Temos que investigar a fundo, quem sabe se o caso não tem relação com alguns desses sumiços”, explica Bento.
Chavarry, formado em direito e com mais de quatro décadas na corporação, ocupava a presidência da Caixa Beneficente da PM, que dispõe de uma rede de benefícios de aposentadoria para os associados, há seis anos. Seu currículo contempla passagens pelos gabinetes de quatro comandantes-gerais, cargo como relações públicas da Polícia Militar ou membro da mesa diretora da irmandade de Nossa Senhora das Dores da PM. Nas publicações da instituição exalta-se a figura do seu presidente como gestor e homem estratégico, além de um homem religioso e de família. Num perfil, publicado pelo jornal da Caixa Beneficente pouco depois de ele assumir a presidência, Chavarry conta que deve todo o seu sucesso a Deus e aos companheiros de trabalho e lamenta não passar mais tempo com sua mulher e sua filha: “Após uma carreira de 37 anos, em que não tive Carnaval, Natal e Ano Novo, assumi uma empreitada dessa magnitude. Eu deveria estar aposentado e curtindo mais a minha família. Eles têm, infelizmente, ficado em segundo plano”.
Questionado sobre o que gosta de fazer nas horas vagas, ele responde determinado: “No meu tempo livre, eu tenho dedicação à Igreja Católica Apostólica Romana, onde costumo participar ativamente das atividades religiosas. Em outras ocasiões, costumo tirar alguns dias para viajar com a família e recuperar as forças”. Neste domingo, Chavarry não participou das liturgias que ele dizia frequentar. Está preso no Batalhão Especial Prisional (BEP) da PM, em Niterói.(fonte:el país)