Tratamentos de crianças internadas em hospitais públicos do Tocantins podem ficar comprometidos por causa da falta de remédios e exames.
É que alguns pais não conseguem os procedimentos pela rede pública. A mãe do pequeno Phellype da Costa Lima, que ingeriu soda cáustica e desenvolveu problemas no esôfago vive um drama e não sabe a quem recorrer.
Greiciele Costa conta que o garotinho tem 4 anos e vive com problemas desde a ingestão da substância, há 3 anos. Ele está internado no Hospital Geral de Palmas (HGP) há um mês aguardando a realização de um eletroencefalograma.
O problema é que o exame não é feito no Tocantins e a mãe espera que seja feita uma transferência.
“A enfermeira falou para mim que só é feito em quatro estados: Pará, Goiânia, Brasília e São Paulo. E até agora nada. Só espera, espera e espera e nunca dão a resposta certa e nem liberam a gente para casa. Só fica ocupando a vaga de outra criança. O Phellype não tá tomando nenhum medicamento, não está fazendo nada”, disse a mãe da criança.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que o exame que o garoto precisa deve ser realizado através da rede municipal.
A prefeitura de Paraíso, onde o paciente mora, e de Palmas também não resolvem o problema.
Ver Phellype doente e sem acesso ao procedimento deixa a mãe desesperada. Ela conta que não sabe o que fazer.
“Já me estressei aqui dentro [do HGP] e já fui até ameaçada de ser tirada de dentro do hospital. Eu falei que eles podem até tirar, mas os meus direitos eu vou procurar. Estou com filho doente. Eles que deveriam ter tomado as providências para poder transferir. A gente só está esperando a transferência”, disse Greiciele.
40 crises de convulsão por dia
A dona de casa Cleudiane Silva também vive um drama. Desde que a filha Valentina Sousa nasceu, há 7 meses, ela precisa ficar no hospital. A pequena tem tem encefalopatia, paralisia cerebral e epilepsia estrutural de difícil controle. Por dia chega a ter cerca de 40 crises.
A bebê toma o Canabidiol de 1.000. Mas agora os médicos receitaram o mesmo medicamento, mas ainda mais forte. O remédio custa mais de R$ 1 mil e não ofertado pela rede pública.
“Teve uma vez que ela chegou a ser intubada devido a tantas crises. Nem mesmo as medicações fazem com que ela sossegue. O preço [do remédio] é alto. Não dá para um mês. Não tenho condições de comprar”, disse Cleudiane.
O médico neurologista Marcelo Cabral explica que o medicamento receitado para a pequena Valentina é eficaz e necessário para o tratamento.
“Essas crises convulsivas, quando não têm o efetivo tratamento, quando não são bem controladas podem piorar a situação neurológica da criança agravando o quadro e levando a consequências, como a piora da parte motora e a piora da parte cognitiva”, disse o médico.
O que diz o governo do estado
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) disse que o Cababidiol, que a bebê Valentina faz uso, segundo a Portaria nº 25, do Ministério da Saúde (MS) “não foi incorporado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (CONITEC) do Sistema Único de Saúde (SUS), para tratamento de crianças e adolescentes com epilepsias refratárias aos tratamentos convencionais”.
Sobre o caso do Phellype, a SES informou que o exame esperado pelo paciente mencionado por este veículo é um eletroencefalograma com sedação. A pasta disse que é “competência da gestão municipal”.
A Prefeitura de Paraíso do Tocantins, que é onde a Phellype mora, afirmou que o exame não é feito pelo SUS do município e que deve ser realizado em Palmas.
Disse ainda que a família deve procurar a Secretaria Municipal de Saúde de Paraíso para que todas as providências sejam tomadas.
Procurada, a prefeitura de Palmas, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semus), disse que o paciente é residentes em Paraíso, município que não tem convênio com Palmas, não sendo dessa forma possível atender a demanda do referido pedido de exame.
A Semus orienta que seja procurada a Secretaria de Saúde do município de origem.
G1 Tocantins