Relatório sobre irregularidades no anexo foi expedido após visitas; Sesau informou que obras estão em andamento
O Conselho Regional de Medicina (CRM) entregou na manhã de ontem à diretoria do Hospital Geral de Palmas (HGP) um relatório que pede melhorias no anexo, após visita que identificou diversas irregularidades na unidade. O conselho entregou ainda o Indicativo de Interdição Ética da unidade, a fim de conscientizar o poder público sobre a situação. (veja quadro).
Com espaço para cerca de 100 pacientes internados, o anexo do HGP, conhecido como tenda, foi instalado em 2013 como medida provisória para diminuir o número de pacientes nos corredores do hospital. As visitas ao anexo, que geraram o relatório, aconteceram na última terça-feira e ontem, e essa fiscalização deve acontecer em todos os hospitais públicos do Estado.
O lavrador Bonfim Rodrigues de Souza, 36 anos, reclamou do atendimento e estrutura da unidade. Ele está a 11 dias acompanhando o filho, Michael Douglas Gomes Rodrigues, 18 anos, que está internado na tenda esperando por uma cirurgia ortopédica após sofrer um acidente de trânsito em Marianópolis, a 178 km de Palmas.
Segundo ele, o jovem ainda não foi operado por falta de material preparatório para realização da cirurgia e enquanto isso é destratado pelos profissionais da saúde. Conforme Souza, os enfermeiros não auxiliam na higiene do filho e ele sozinho não está dando conta.
“Meu filho está usando fralda e após realizar suas necessidades fisiológicas, a maca sujou e um enfermeiro me mandou voltar para o banheiro com ele e limpar porque estava fedendo, mas ninguém me ajudou”, relatou. Devido ao episódio, o caso foi registrado pelo lavrador na ouvidoria do hospital.
Fiscalização
“Aquilo é uma excrescência, uma imoralidade, um afronta a dignidade do ser humano. O que nós constatamos é verdadeiramente deprimente, é uma tenda que veio provisoriamente em 2013 se tornou permanente”, relatou o coordenador de fiscalização do CRM, Eduardo Braga.
Braga ainda pontuou que o ambiente da tenda é periculoso. “É indigno do ser humano. A assistência fica comprometida, o ambiente é totalmente insalubre porque não há aeração, não existe aeração, aquilo tudo é material inflamável, se pegar fogo é uma tragédia anunciada. Não há hidrantes, a única porta de saída de emergência lá atrás é no cadeado e se houver uma calamidade, tragédia, morre a metade antes de conseguir abrir a porta” disse.
Interdição
Para o presidente do CRM, Jaci Silvério, a tenda está famigerada. “O que a gente viu nessa tenda hoje é um amontoado de pacientes e acompanhantes em situação degradante, promiscuidade, situação desumana, deprimente, inadmissível. Uma tenda que só seria aceitável em situação de catástrofe ou de guerra, ou situação emergencial e muito provisoriamente, não permanente como está”, explanou.
Sobre a interdição, Silvério acredita que é preciso mais fiscalizações e avaliações na unidade até ter a certeza que não há solução disponível. “E aí não nos restará outra solução senão uma interdição médica, que também é trágica”, disse.
Para tais providências, o CRM notificou a diretora do HGP, Renata Duran, sobre a possível interdição ética. O relatório foi encaminhado ainda para o secretário Estadual de Saúde (Sesau), Marcos Musafir, para resolver a questão, e serão ouvidos os médicos que trabalham nos corredores e tenda da unidade.
O Ministério Público Estadual (MPE), Ministério Público Federal (MPF) e Defensoria Pública do Estado (DPE) serão acionados para investigação. Após acionar os órgãos competentes e ouvir os profissionais, o CRM voltará para verificar a situação atual do HGP.
Sesau
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informou, através de nota, que recebeu o indicativo de interdição ética do trabalho de médicos que atuam no anexo provisório do HGP e ressaltou que estão em andamento as obras de reforma e ampliação da unidade, que devem resolver a situação dos pacientes de todo o hospital, assim como a retirada da estrutura do anexo provisório.
Sobre o estado de saúde do paciente Michael Douglas Rodrigues, a pasta informou que ele foi internado no dia 3 de julho, vítima de acidente de motocicleta, com uma lesão na perna esquerda. O paciente segue internado sob os cuidados da equipe e aguarda agendamento de cirurgia, cuja demanda é atendida conforme o quadro de saúde e ordem de atendimentos programados.
FISCALIZAÇÃO REALIZADA
TENDA
Conta com 106 leitos/macas
Não conta com hidrantes e há somente nove extintores
Dispõe de uma única saída de emergência no final das instalações fechada e trancada com cadeado, cuja chave se encontra em um quadro de vidro
Não dispõe de exaustores, tomando um ambiente doentio e insalubre pela falta de circulação de ar
Não há privacidade aos pacientes
Leitos/macas sem nenhum conforto para os pacientes, distam menos de um metro entre si
Profissionais de saúde do setor, em sua maioria, são contratados e sequer recebem o devido adicional de insalubridade
A tenda tem apenas dois sanitários e dois box de banheiros para atender os 106 pacientes e talvez os acompanhantes
Apenas dois técnicos de enfermagem e dois enfermeiros atendem todas as demandas dos pacientes nos quatro setores da tenda
Não há médico plantonista
Existe apenas um carro de emergência, e mesmo assim inoperante por falta de medicamentos, material de procedimentos e equipamentos
CORREDOR
Conta com 62 leitos
Para enfermeira realizar a medicação aos pacientes do corredor, ela os chama em voz alta pelo nome e sai à procura do mesmo, por não haver identificação numérica ou outro tipo de controle
Pacientes ficam expostos no sol e sem identificação
Pacientes com curativo sem trocar por três dias por falta de atadura.(fonte:jornal do tocantins)