Veterinário afirma que “curiosidade” do cachorro pode ter o levado à margem onde sucuri atacou. Cobras de grande porte podem ser encontradas no estado devido à presença de importantes rios e córregos que passam pela região
Um cachorro foi o responsável por anunciar a localização de outro cão em uma fazenda. O animal de estimação da raça Americana estava desaparecido há uns dias, quando o dono, Bento Gonçalves, ouviu latidos de outros cães próximo ao córrego e foi ver o que estava acontecendo.
Quando chegou à margem do riacho, viu uma cena parecida com novela: o cachorro estava preso na boca de uma cobra.O caso aconteceu na zona rural de Dueré, na região sul do Tocantins.
É a primeira vez que a família soube do aparecimento de uma sucuri na região em que moram há aproximadamente 50 anos. A filha do casal conta como foi a história.
“Um dos cachorros da casa fugiu e meu pai ficou procurando por dias e não achava. Até que ouviu os outros cachorros latindo no quintal e foram procurar. Chegando lá, viram a cobra com o cachorro na boca”, relatou a professora Ivanilde Medeiros Gonçalves.
Ivanilde conta que o pai ligou para ela, chamando-a para ir à fazenda filmar e tirar foto, porque, senão, ninguém ia acreditar.
“A gente ficou até de longe, porque parecia que estava em estado de decomposição. Ela estava inchada e o cheiro estava muito forte. Resolvemos deixar lá no córrego mesmo”, comenta.
A família usa água de poço artesiano e cria peixes em uma represa próxima ao córrego, que não é utilizado pela família. Sobre o medo de outra sucuri aparecer no terreno, a professora ainda brinca: “acho que nunca mais aparece outra aqui, depois disso”.
É raro, mas pode acontecer
Diferentemente do que acredita a família, o aparecimento de sucuris na região pode não ser tão raro assim.
O veterinário e mestre em ciência animal, Felippe Azzolini, explica que a região é propícia a ter a espécie por causa dos rios e córregos no estado.
“Muitas vezes, as pessoas não ficam sabendo da existência pelo fato de essa espécie se manter a maior parte do tempo dentro da água, já que se sentem mais seguras e são mais ágeis do que quando estão fora dela”, afirma.
Se o ditado diz que “a curiosidade matou o gato”, nesse caso, pode ter matado o cão. Isso porque uma das possibilidades de o ataque ter acontecido é a aproximação do cachorro motivado pelo barulho na água.
“Acidentes com cães acontecem, na maioria das vezes, por comodidade para a sucuri, já que cães são curiosos e ao se aproximarem para descobrir quem é o ‘morador’ daquela região, acabam sendo predados”, acredita o especialista.
O veterinário ainda ressalta que áreas com presença de água, como rios, açudes e córregos, principalmente rodeados de vegetação e afastados da presença humana, são ambientes favoráveis para o aparecimento de sucuris.
“Serpentes, independente da espécie, vão procurar sempre se manter longe dos humanos, pois sabem que são ameaças para elas. Um acidente com esses animais ocorre somente quando se sentem ameaçadas e não têm para onde fugirem. Por isso a preferência das sucuris de ficarem dentro da água, ou nas margens, para poderem fugir de forma rápida, já que é uma espécie bastante pesada, podendo chegar a 90kg e medir em média 6 metros”, informa Felippe.
O veterinário orienta em casos que elas possam aparecer. “Quando avistadas, basta manter distância e deixar seguirem o caminho delas.
O homem não está na lista de alimentos delas, assim como animais domésticos também não, sendo predados em casos pontuais apenas”, ressalta.
Sucuri poderia estar ‘jiboiando’
O médico veterinário especialista em animais silvestres Alessandro Bijjeni acredita que, pelas imagens, quando o fazendeiro viu a cena, o ataque pode não ter sido naquele momento.
“Nas imagens, vemos que na porção caudal está muito inchado e isso é característico em animais em fermentação, processo bacteriano”, afirma.
Alessandro ainda ressalta o poder de sucuris atacarem animais muito grandes, por causa da grande cavidade oral. “Elas têm uma dilatação bem grande da parte do estômago pela fermentação, por todo o processo digestivo e, às vezes, ficam dias praticamente paradas no mesmo local”, finaliza.
g1 Tocantins.