Depois de lesões debilitantes, um tumor e dificuldades financeiras, muitas pessoas teriam simplesmente desistido do sonho olímpico. Mas não foi o caso de Kieran Behan
Como esperado, o ginasta irlandês de 27 anos sequer chegou perto do pódio olímpico em sua participação na Rio 2016. Mas o que realmente impressiona não é seu resultado, e sim sua história para chegar aos Jogos – e também para completar a rotina da competição de solo do último sábado, depois de machucar o joelho esquerdo logo no primeiro movimento.
Esse mesmo joelho já havia sido “condenado” por um médico depois de uma lesão em 2010.
Àquela altura, Behan já tinha ficha médica de veterano em lesões.
Aos 11 anos, uma cirurgia para a retirada de um tumor benigno na perna esquerda resultou em complicações neurológicas e ele ficou um ano sem poder andar.
Em 2003, ele sofreu uma queda nos treinos nas barras paralelas, e uma pancada na cabeça causou danos suficientes para o diagnóstico de que jamais andaria novamente.
Behan desafiou os médicos: nove anos mais tarde, tornou-se, na Olimpíada de Londres, o segundo ginasta irlandês na história a representar o país nos Jogos.
Ainda assim, com drama de sobra: levou dois tombos nos exercícios de solo e ficou apenas em 53º lugar. Na ocasião, ele prometeu que tentaria chegar ao Rio, mesmo que que outros tipos de dificuldade aparecessem no caminho.
Construção civil
“A Irlanda não é um país de destaque da ginástica e passou por uma crise econômica nos últimos anos. Não havia dinheiro ou patrocínios para que eu pudesse me dedicar somente aos treinos. Para chegar ao Rio, eu tive que trabalhar”, contou Behan à BBC Brasil na Zona Internacional da Vila dos Atletas, dias antes das competições de ginástica, e em que várias vezes acariciou o joelho esquerdo, como se quisesse incentivar a articulação a não desapontá-lo.
Trabalhar foi o que ele fez. Além de dar aulas de ginástica, Behan se juntou ao pai, Phil, em trabalhos na construção civil, incluindo tarefas mais pesadas. Perdeu a conta das vezes em que o cansaço foi um adversário mais assustador que um salto sobre o cavalo.
“O corpo doía, mas eu precisava continuar acreditando. Era a única maneira de seguir na ginástica e de realizar o sonho de chegar novamente a uma Olimpíada. Fui ao inferno e voltei”.
Em abril de 2016, Behan obteve, justamente no evento-teste da ginástica no Rio, a classificação olímpica. Sua segunda chance tinha chegado.
“Tudo o que queria era a chance de cumprir minha rotina de solo sem queda. Passei por muita coisa na vida que me fez pensar se não valia simplesmente ter ido fazer outra coisa. Mas não teria me perdoado se não tivesse tentado”.
Risco para chegar à final
Behan veio sozinho para o Rio, pela dificuldade em custear a viagem dos pais do Reino Unido (a família mora em um subúrbio de Londres) à capital fluminense.
“As passagens aéreas são bem caras nesta época do ano, ainda mais em ano olímpico”, disse, resignado.
As chances de fazer uma final na Arena Olímpica do Rio eram pequenas, e Behan sabia que precisaria arriscar uma série mais complexa no solo para tentar chegar o mais perto possível dos primeiros colocados.
Acabou deixando a instalação de muletas por causa do joelho e preocupado com seu futuro como atleta, algo que ainda precisará debater com os médicos quando voltar para casa e fizer novos exames no velho joelho esquerdo.
“Aprendi a não me desesperar com as más notícias. Você sempre encontra algo de positivo em qualquer situação”.
Neste caso, a 38ª colocação individual geral que ele obteve no Rio foi uma recompensa. Behan melhorou em 15 postos seu resultado de Londres.(fonte:bbc notícias)