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Mês do aniversário de Palmeirópolis: a história da cidade pelo olhar do pioneiro Elvecio Moura dos Santos

Conhecendo a cidade de Palmeirópolis no mês do seu aniversário, pela experiência de quem conhece a história e sempre esteve ligado ao lugar.

Palmeirópolis fez aniversário de 42 anos com uma grande festa e durante todo mês de junho que se comemora a data, vamos mostrar à história do lugar no olhar e na memória de seus moradores.

VEJA NA ÍNTEGRA A NARRATIVA DE ELVECIO

      A eleição de Jânio Quadros define a localização da cidade de Palmeirópolis.

O povoado que deu origem a Palmeirópolis surgiu no ano 1959, quando foi fundada uma escolinha rural precária, na propriedade então denominada Fazenda Itabaiana, que anteriormente pertencia ao Sr. Anísio Baiano e que veio a ser adquirida pelo Sr. Limírio Viana Guimarães em 1958.

Antes de comprar a Fazenda Itabaiana, o Sr. Limirio já mantinha relacionamento comercial e de amizade com Seu Anísio Baiano, tendo, inclusive montado uma tenda de mascate na porta da referida propriedade, onde permaneceu algum tempo vendendo mercadorias.

O Sr. Limírio tomou gosto pela região das Palmeiras, nome originário de Palmeirópolis, e nutria o desejo de comprar a Fazenda Itabaiana.

Entretanto, imaginava que não tivesse condições financeiras suficientes para fazer a proposta de compra. Foi aí que entrou na conversa o Seu Jacob Rodrigues Damacena, conhecido como Jacozão, fazendeiro há tempos estabelecido na região, o qual informou que o Anísio Baiano mesmo a contragosto, precisava se mudar das Palmeiras, o quanto antes.

É que sendo Inspetor de Quarteirão, nomeado pelo Delegado de Paranã, que na época era o “Mestre” Alípio Costa, havia se envolvido num entrevero justamente com o “Mestre” Delegado, tendo como motivação uma mulher, o que estava a ponto de ocorrer troca de tiros.

A partir desse contexto a coisa fluiu naturalmente, tendo a venda sido concluída envolvendo a permuta das propriedades: Anísio Baiano vendeu pro Seu Limírio a Fazenda Itabaiana em Palmeiras (hoje Palmeirópolis) e adquiriu daquele a Fazenda das Lages, próxima a Formoso – GO.

Negócio fechado, ficou combinado que as mudanças de ambas as famílias aconteceria após a colheita no ano seguinte, qual seja, 1959.

Logo que se mudou pra Palmeiras, Seu Limírio, demonstrando ser um homem de visão, naquele mesmo ano de 1959, providenciou a instalação de uma escolinha rural, a qual tinha o pomposo nome de “Escola Isolada Fazenda Itabaiana”. Posteriormente, a denominação foi alterada para “Escola Isolada de Palmeiras”.

A primeira educadora a lecionar em Palmeirópolis foi a Professora Maria Guedes dos Santos, quando ainda era menor de idade.

Para viabilizar o pagamento da Professora Maria Guedes, o seu contrato foi feito em nome do próprio Sr. Limírio, a fim de que essa unidade escolar pudesse entrar na folha de pagamento do Município de Paranã.

Como forma de homenagear essa educadora pioneira do lugar, depois de cerca de 6 décadas, a Professora Maria Guedes veio dar nome ao Colégio Estadual de Palmeirópolis, atual Colégio Militar Professora Maria Guedes.

Noutra vertente migratória, naquela mesma época chegavam na zona rural de Paranã, hoje Palmeirópolis, provenientes de Ponte Alta do Tocantins, Portal do Jalapão, o Sr. Benjamim Moura Filho, conhecido como Beijinha Moura, juntamente com seu sogro Sr. Ermano Gonçalves dos Santos.

Primeiro, vieram no ano de 1958, quando demarcaram suas respectivas fazendas e plantaram lavouras. Esclareça-se que naquela época essas terras eram todas devolutas, ou seja, não tinham donos, pertenciam ao Estado de Goiás.

No ano seguinte, meados de 1959, o Seu Beijinha e Seu Ermano, chegaram de mudança na zona rural de Paranã, atualmente município de Palmeirópolis, acompanhados de suas respectivas famílias. Estabeleceram suas propriedades rurais na região do Córrego do Mato e do Córrego de Areia, respectivamente.

No início da década de 1960 surgiram as primeiras construções do povoado de Palmeiras, então município de Paranã.

O primeiro prédio, construído em alvenaria (adobo de barro cru) e coberto de telhas, foi a capelinha da igreja católica, a qual ficava na Av. das Palmeiras, em frente à atual Praça da Matriz, no alinhamento da avenida.

Além da igreja havia mais duas ou três casas em volta da praça da matriz. A capela tinha o formato retangular, com dois oitões regulares, duas portas laterais, (uma de cada lado) e no frontão voltado para a serra ficava a porta principal.

Havia uma cumeeira ligando um oitão ao outro, as paredes eram rebocadas e caiadas com cal produzido pela queima de pedra calcária extraído no Morro da Figura, situado na fazenda então pertencente ao Jacozão.

A capela foi construída pelo esforço comunitário dos moradores do lugar, em que cada um doava o que podia em termos de materiais de construção: adobos, areia, madeira, telhas, cal, etc. O construtor dessa obra histórica foi o Sr. José da Costa Guedes, conhecido como Zezinho Guedes, o qual veio a ser genro do Sr. Ermano Gonçalves, pois casou-se com a Professora Doralice Rosa Guedes, filha daquele pioneiro. Na construção da igreja, Zezinho contou com a ajuda, entre outros, de Venâncio de Jesus, conhecido como Venâncio Bicudo.

Considerando que o vigário ficava noutro município, ele somente comparecia ali uma ou duas vezes por ano, normalmente por ocasião dos festejos da padroeira, que naquela época aconteciam no mês de julho, quando aconteciam casamentos e batizados. Assim, durante o ano, o prédio da igreja era usado como sala de aula, além de servir como salão comunitário.

Nos primórdios de Palmeirópolis, então Palmeiras, havia duas famílias que disputavam a hegemonia política do lugar, quais sejam, a família dos Tavares, tendo como patriarca o Sr. Antônio Tavares e a família Alecrim, que tinha o Sr. Francisco Alecrim como patriarca, conhecido como Chico Alecrim.

A sede da fazenda do Sr. Antônio Tavares ficava na margem esquerda do córrego Mocambinho, onde hoje é a fazenda do Édson Reis, pai da dupla sertaneja Henrique & Juliano. Esclareça-se que seu Antônio Tavares era sogro do Jacozão, os quais eram vizinhos de fazenda. Registre-se que os restos mortais do seu Antônio Tavares ainda hoje encontram-se sepultados na sede da sua antiga fazenda.

Já naquela época havia o mesmo rego d’água que ainda hoje abastece os tanques onde são criados peixes na sede daquela antiga fazenda. Havia também uma exuberante quinta de variadas plantas frutíferas, bem como uma frondosa plantação de café.

Lembro-me de quando eu tinha 10 anos de idade ia todo dia bem cedo naquela fazenda buscar leite de vaca.

Para uma criança que ia a pé, a distância de 5 km de ida e volta era longa e a estrada era de causar medo, pois andava o tempo todo no meio do cerrado.

Meus pais moravam na Rua 6 nº 198, quase esquina com a Av Castelo Branco.

Saindo de casa eu pegava a estrada onde hoje é a Rua 7, esquina com a Av. Castelo Branco, onde começava o cerrado. Seguia rumo ao atual trevo da saída pra Paranã.

Dali, seguia rumo à passagem do córrego Mocambinho, indo pra atual fazenda do Édson Reis. Havia uma extensa e bonita vereda entre a mata ciliar do córrego e o cerrado denso que existia onde hoje começa a cidade.

Quando eu chegava na fazenda, era atendido pela simpática dona Sebastiana Tavares, esposa do proprietário.

Pra chegar na fazenda, atravessava-se o córrego Mocambinho a vau, com a água quase no joelho.

Quando eu fazia a travessia do mencionado córrego acontecia um mistério na minha cabeça. Era como se a Terra fizesse um giro de 180°, de modo que o sol parecia inverter de posição e passasse a nascer do lado poente. Isso acontecia todos os dias, o que me deixava muito encabulado.

Esse fenômeno somente deixou de acontecer no dia em que, decidido a decifrar o enigma, fixei os olhos na lua que estava bem visível no céu e continuei olhando pro alto, fixo naquele astro celeste enquanto atravessava o córrego.

De repente tropecei numa pedra e caí dentro d’água. Ao me levantar e olhar pro céu, vi que os pontos cardeais haviam se reordenado no céu. Por sorte, esse susto aristotélico aconteceu na ida, pois se fosse na volta teria derramado o leite

Também vivi a experiência de fazer colheita de café na mencionada fazenda, juntamente com a mamãe, Professora Oneides Rosa de Moura, e meus irmãos mais velhos quais sejam, Evercino e Maroca (Professora Madalena).

Colhíamos café por produção, com direito a um quinto do que conseguíssemos colher.

Nessa empreitada da colheita de café também estavam a esposa e as filhas do Sr. Francisco Alecrim.

A Nite, a mais nova delas, um pouco mais velha que eu, na época era uma menina moça que estava entrando na puberdade. Foi a primeira vez em que olhei para uma garota e senti desejo, ao vê-la com aquela blusinha de tecido ralo e surrado no meio do cafezal, deixando entrever a proeminência dos seus futuros seios.

O outro patriarca do lugar, Sr. Francisco Alecrim, ficava estabelecido na margem esquerda do córrego Cocalinho, onde hoje seria a continuidade da Rua 10.

No ano de 1960, no dia 3 de outubro, aconteceu o grande sufrágio universal no Brasil, tendo como protagonistas os candidatos Jânio Quadros e Marechal Lott.

Além da expectativa natural quanto ao futuro Presidente da República, havia uma expectativa particular em relação à localidade de Palmeiras, precursora de Palmeirópolis.

O futuro de Palmeirópolis dependia de quem viesse a ser eleito Presidente da República.

Os Tavares, que apoiavam o candidato Marechal Lott, queriam que a cidade fosse instalada em área da sua fazenda, região onde hoje está localizada a pista de pouso construída pelo Sr. Édson Reis, pai da dupla sertaneja Henrique & Juliano. Além dos interesses pessoais, justificavam a conveniência da instalação da cidade em suas terras com o fato de que por ali passava a estrada que ia pra cidade de Paranã, sede do município.

Por sua vez, os Alecrim, que apoiavam o candidato Jânio Quadros defendiam que a cidade fosse demarcada no planalto entre os dois córregos Mocambinho, Cocalinho e a serra, justificando que nessa parte a topografia do terreno era mais propícia e já existia até uma escola em funcionamento.

Os Alecrim contaram com o apoio do Sr. Limírio Viana Guimarães, então recém chegado ao lugar, o qual veio a se tornar o maior líder político de Palmeiras, hoje Palmeirópolis.

Já naquela época, havia uma incipiente pista de pouso, a qual ficava no local hoje delimitado pela Av. das Palmeiras, Av. Castelo Branco, Rua 8 e Rua 3.

Lembro-me que na véspera das eleições chegou de avião diversificado material de propaganda política (alfinetes, bótons, caixas de fósforos), com o símbolo de cada um dos candidatos: a vassoura de Jânio e a espada de Lott.

Naquela época morávamos na Fazenda Córrego do Mato, e toda a família foi pra palmeiras participar da eleição.

Ao chegar no povoado de Palmeiras, os rapazes de Ermano Gonçalves ficaram sabendo que ia chegar uma caravana vinda do Retiro, onde estariam muitas moças bonitas. Combinaram de encontrar a comitiva do Retiro na passagem do Mocambinho. Mais que depressa, o assanhado Beijinha disse que também iria. Montou sua mula baia de nome Flauta e disse que traria uma moça bonita na garupa. Tal foi a decepção de Beijinha, que somente sobrou pra ele trazer na garupa o Sebastião Moranga. Isso foi motivo de galhofa para os demais.

Como não havia casa onde se hospedar, escolheu-se um bom lugar pra atar redes e acampamos ao relento. O local escolhido foi uma moita de árvores então existentes onde hoje está o quarteirão delimitado pela Av. das Palmeiras, Rua 8, Av. 12 de Março e Rua 9.

Esse local estava relativamente próximo do comitê político do Seu Chico Alecrim, onde se chegava andando a pé por um trieiro no meio do cerrado. Para dar apoio aos eleitores, foi montada uma cozinha onde se fazia paneladas e tachos de comida, onde todos se serviam à vontade.

Entre a casa e o córrego havia um amplo terreiro de chão batido, onde foi construída uma grande barraca de palhas, na qual havia sanfoneiro tocando e o povo dançava animado.

Os mais exaltados pelo consumo de bebida alcoólica, terminavam de comer e jogavam os pratos do alto da ribanceira dentro do Córrego Cocalinho, entre os quais estavam os filhos do Seu Ermano Gonçalves: Agostinho, Chico Gonçalves e Joaquim de Ermano. Depois, os gaiatos mandavam os meninos irem apanhar os pratos. Quando a gente estava lá embaixo, eles jogavam cachorros no poço d’água, só pra terem o prazer de nos molhar, quando caiam na gargalhada.

Certo dia aconteceu um incidente dentro do salão de festa, quando um sujeito de nome Piauí furou de faca, um genro do seu Zeca Francisco. Felizmente o ferimento não foi grave.

Enfim correu tudo bem durante a eleição e Jânio Quadros sagrou-se o grande vencedor.

Com isso, foi selado o futuro de Palmeirópolis, pois ficou definido que a cidade seria instalada no planalto existente entre os córregos Mocambinho, Cocalinho e a serra, tal como queriam os Alecrim com o apoio do Sr. Limírio Viana Guimarães

Definido o local, posteriormente foi demarcado o quadrilátero do perímetro urbano do Distrito de Palmeiras, precursora de Palmeirópolis.

Penso que a vitória de Jânio Quadros foi de fundamental importância para traçar os destinos de Palmeirópolis, pois o local definido para a instalação dessa cidade é propício sob todos os aspectos: a topografia, a paisagem, os acessos viários, tudo isso fazendo com esta urbe nascesse com vocação pra ser importante no cenário tocantinense e quiçá no cenário nacional

Elvecio Moura dos Santos

Desembargador Federal do Trabalho do TRT da 18ª Região – GO, Cidadão Pioneiro de Palmeirópolis  – Em 10/06/2022

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