Confira uma entrevista com a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos.
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, afirma ter como meta reformular a ressocialização de jovens infratores e avisa que acabará com a visita íntima em unidades do tipo. “Mamãe Damares vai mandar bola, livro, arroz e feijão. Camisinha e lubrificante, não”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo. Desde 2012, uma lei dá direito à visita íntima a jovens infratores casados ou, comprovadamente, em união estável.
Leia os principais trechos da entrevista com a ministra:
O Orçamento da sua pasta teve corte de 20% para o próximo ano. Como trabalhar com isso?
Duplicamos o número de emendas (verbas que parlamentares escolhem as áreas onde aplicar). Teve secretaria que saiu de R$ 1 milhão para R$ 15 milhões em emendas, como a do Idoso. E parcerias. Fechamos com a Avon para divulgar o Disque 180 (canal para denunciar violência à mulher). O anúncio estará em revistas e produtos. Numa 2ª fase, treinaremos vendedoras para serem agentes de proteção da mulher.
Sem contrapartida?
É. O poder público não vai fazer sozinho. Precisamos descentralizar ações. Chega de técnicos, de “ólogos” atrás de uma mesa decidindo o que tem de acontecer lá na ponta.
Qual é a agenda de 2020?
Estamos construindo o maior pacto de proteção à criança no País. Temos R$ 100 milhões da Petrobras para ampliar e construir unidades socioeducativas. Preciso entregar 62 unidades no País. Há 5 mil meninos nas ruas. Nos próximos três anos, priorizaremos a entrega de unidades, mas não só construir. Queremos mudar o atendimento. Eles têm ido às unidades e saído piores. Farei unidades em fazenda, voltadas ao esporte de alto rendimento e trabalhar o ensino de qualidade.
Mas não dá para fazer tudo isso só com a verba da Petrobras…
O dinheiro de leilões, estatais, vendas… Parte irá para nossas unidades. Consigo construir todas em três anos e também fazer parceria público-privada. E não aceito visita íntima para meninos. Qual a idade da namorada que vai lá transar com ele? Vou enfrentar isso. Mamãe Damares vai mandar bola, livro, arroz e feijão. Camisinha e lubrificante, não.
No lançamento do disque 180, a sra. ficou calada. O que achou da repercussão de sua atuação?
Devia ter tido um pouco mais de compreensão da imprensa. A ideia da campanha era “não tire a voz de uma mulher” e eu queria participar. Queria que vissem uma mulher que fala demais ficar no silêncio. Não me arrependo.
A sra. defende a licença-maternidade de até um ano? Consegue apoio da política liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes?
Vamos. Guedes é liberal, mas com coração no social.
A sra. já disse se ver empoderada. O filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), pediu que professores não ensinem feminismo. Concorda?
Quando falo que sou empoderada, uso o sonho das feministas: empoderar uma mulher. Queria dizer às feministas que me criticam tanto que poderíamos ter diálogo. Poderiam usar meu exemplo na luta delas. Sou mulher que veio de baixo, não tinha nem sapato para ir à escola e hoje sou ministra.
Mas isso pode ser ensinado na escola?
Respeito à mulher tem de ser falado na escola.
Desse ponto de vista, a sra. pode ser considerada feminista?
Mas sou feminista. O problema é: o que é o feminismo? Essas loucas na rua gritando, com bandeiras, peladas e quebrando tudo? O que questiono é a forma que lutam por igualdade. Se lutar pelo direito da mulher é ser feminista, eu sou.
Como vê a diferença salarial entre mulher e homem?
Temos de acabar com essa palhaçada. Vamos ter de denunciar e aplicar multas. É lei. O nosso 180 agora vai ter um canal direto para denunciar isso sem precisar se identificar. Se no seu trabalho acontecer, pode denunciar que vamos para cima. Não vai ficar barato.
O presidente falou a um repórter “Você tem uma cara de homossexual terrível, nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual”. A sra. está à frente de políticas contra o preconceito a LGBT+. Essas falas ajudam?
Me parece que o presidente tentou consertar isso depois. O que acontece com meu presidente: ele fala muito. Não quis dizer “estou te julgando pela sua aparência”, mas “não julgo ninguém pela aparência”.
A senhora defende o excludente de ilicitude (situação em que o militar ou agente de segurança pode ser isentado de punição ao cometer algo considerado proibido por lei, como matar)?
Concordo com o ministro (Sergio) Moro (Justiça) na forma como apresentou a proposta (pacote anticrime). Não posso dizer que todos os policiais nas ruas vão pegar arma e sair matando tão somente por matar. Trabalho com a Polícia Militar. Dizer que todos que estão lá são bandidos e que foram treinados para matar e só para matar é a gente colocar em risco a sociedade.
Há o caso Ágatha, Paraisópolis. Ampliar o excludente não pode aumentar a violência?
Não acho. Vai dar mais segurança jurídica a quem combate a violência. Trabalho em comunidades a minha vida inteira e sei o que acontece lá. O maior salário do Brasil deveria ser para professor e policial.
Como vê a investigação contra o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ)?
Ele é claro nas declarações. Quer transparência na investigação e que seja afastada toda e qualquer ideologia política do processo investigatório.
É candidata em 2022?
Sou candidata à rede numa casinha numa praia em Aracaju.
A sra. cogitou parar…
Quando o presidente me chamou, foi para construir um ministério. Achei que quando edificasse, poderia sair. Mas percebi que não é hora. Eu tinha a ideia de que seria ministra por seis meses. Estou cansada, queria parar, eu estava me aposentando já. Quero namorar.
Tem pretendente?
Não. Se tiver, me manda o currículo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.