Disputa pela Prefeitura da capital já está quente nos bastidores, mas há muitas incógnitas e cortinas de fumaça
Dock Júnior
Encerrada, no dia 18, a janela de transferências para detentores de mandato legislativo trocarem de sigla partidária sem a perda do mesmo, um novo quadro se apresenta no que concerne, especificamente, à sucessão à Prefeitura de Palmas.
Carlos Amastha, o atual inquilino do paço municipal, permaneceu no PSB. Trata-se de um forte candidato à reeleição, mesmo que as pesquisas apontem, momentaneamente, certa impopularidade, fruto da inequívoca preferência pelo pessoal em detrimento da coisa pública, má gestão do erário municipal, corrupção, e por fim, também pelo desgaste natural após três anos de mandato. A força do poder econômico – que todos os palmenses estão cientes que ele possui – aliada ao fato da máquina municipal estar sob seu comando, são fatores que lhe fortalecem. Os adversários saem, de cara, perdendo por dois a zero. O jogo vai ser iniciado, portanto, com desvantagem para os opositores.
Além disso, a quem interessa um número infindável de candidaturas à Prefeitura de Palmas? Logicamente, a divisão dos votos em localidades com menos de 200 mil eleitores, e, por consequência, sem segundo turno, quase sempre beneficia o gestor da máquina administrativa, assim como ocorrera na reeleição de Raul Filho em 2008.
Neste momento vários pré-candidatos surgem, quer seja para entrar de fato na disputa, quer seja apenas para, num futuro breve, retirar seu nome do embate e “negociar seu insofismável apoio” a um ou outro, conforme as conveniências e circunstâncias do jogo político.
A princípio, pelo menos no que diz respeito ao recente passado da política no Estado do Tocantins, resta claro e evidente que haverá disputa entre duas forças historicamente adversárias. A diferença é que agora nenhum dos dois rege a batuta do poder municipal, visto que existe uma terceira via capitaneando as verbas e as ações por lá, e até mesmo uma quarta ou quinta via correndo por fora.
Os clássicos embates ocorridos, a duras penas sufocados pelos assessores e chefes de cerimoniais do governador Marcelo Miranda (PMDB) e do prefeito Amastha, ainda ressoam nos porões do Palácio Araguaia e nos arcabouços do Paço Municipal. O PMDB necessita, portanto, marcar território, é questão de honra.
É muito provável que a filiação do deputado estadual Valdemar JR ao partido seja uma pista dos rumos da sigla. Trata-se de um homem que fez sua carreira no rádio e na televisão e, exatamente por isso, sabe convencer e fazer sua mensagem chegar à grande massa eleitoral. Já provou isso, inclusive, ao obter êxito em seus pleitos para vereador e deputado estadual.
Todavia, como dizem os próprios “modebas”, se chama PARTIDO porque está fragmentado em várias partes, caso contrário, se chamaria UNIDO. Logo, para o governador bancar o nome do fiel deputado como candidato à Prefeitura de Palmas, terá que convencer, além do diretório municipal e delegados regionais, a sua aliada e vice, Cláudia Lelis (PV), que também anseia disputar o cargo.
No mesmo diapasão, o adversário histórico apresenta suas apostas. Marcos Antônio Poggio, o Tio Marcão, certamente será o candidato do DEM, partido que filiou – ao apagar das luzes – os “Siqueiras”, quais sejam: o chefe do clã e o filho, atualmente deputado estadual, Eduardo. Não restam dúvidas que as apostas da velha guarda da política tocantínia recairão sobre esse comunicador. Além de popularidade junto a uma grande parte da população, face sua atuação midiática, nunca entrou em quaisquer disputas, nem tampouco exerceu cargos públicos ou mandatos, portanto, possui baixíssimos índices de rejeição.
O PR, por sua vez, garante – baseado em pesquisas internas – que o ex-prefeito Raul Filho possui, sem sequer lançar candidatura, mais de 20% dos votos em Palmas. Se for verdade é, sem dúvida, um bom índice. Contudo, o partido não apresenta os dados da rejeição, que certamente também beiram esse porcentual. Aliado a isso, as decisões da sigla passam pelas mãos do senador Vicentinho Alves, que conduz o partido no Estado. Esse político portuense – como todos os tocantinenses sabem – tem profundas raízes e ligações com o ex-governador Siqueira Campos. Aqui, portanto, ainda persiste uma incógnita.
As hipóteses não param por aí.
Fabiano “Parafuso” do Vale – um próspero empresário da capital – se filiou ao PRB, comandado por César Halum, que, por sua vez, quer primeiro sentir o nome de seu pupilo junto à população. É, contudo, mais um nome nesta lista, e que pode ganhar força.
Wanderlei Barbosa (SD) e Sargento Aragão (PEN) são figuras exponenciais quando o assunto são críticas a atual gestão municipal e ao prefeito Carlos Amastha. Eles também se posicionam como pré-candidatos, porém, seus nomes ainda não deslancharam.
A deputada Luana Ribeiro deixou o PR e filiou-se ao PDT, comandado no Estado por Ângelo Agnolin. Já o seu colega parlamentar Zé Roberto (PT) ainda sinaliza uma possível candidatura na tentativa de marcar o território vermelho em Palmas, face a declarada perda de espaço do PT no Estado assim como em todo Brasil, em razão da crise a qual a sigla submeteu o país. Há uma aliança nacional entre os dois partidos – inclusive quando o assunto é impeachment –, todavia, regionalmente, ainda é impossível traçar quaisquer prognósticos.
Não bastassem todas essas possíveis conjecturas, ainda há duas cartas nesse baralho, que podem ser consideradas coringas: quem terá o apoio de Kátia Abreu (PMDB), que exerce influência direta no PSD, e de Carlos Henrique Gaguim (PTN)? O deputado federal confirmou há poucos dias que ambos fizeram uma aliança política que está em vigor até 2018. Contudo, após seu posicionamento pró-impeachment na semana passada, essa parceria tende a estremecer.
Kátia Abreu, inexplicavelmente, não saiu do PMDB durante a janela de transferências recentemente aberta. Não que ela fosse obrigada a sair – visto que não foi eleita pelo coeficiente eleitoral – e por isso, não estava presa à regra estabelecida aos deputados e vereadores. Mas o PSD, cujo presidente do Estado é o deputado federal Irajá Abreu, seu primogênito, seria a legenda ideal, desde o princípio.
A senadora que está ministra arrumou um problema “diplomático” com o PMDB, sem qualquer necessidade. Apostou que sua força política dentro do partido era inabalável e se manteve inerte. Não era. Derval de Paiva, presidente regional da sigla, que o diga.
Na iminência de assumir a Presidência da República após ser apenas o coadjuvante desde a era Sarney, o partido se desligou do PT. Kátia, na contramão da história, não. Exigir do PMDB, e do próprio presidente do partido, Michel Temer, que abdicasse da oportunidade ímpar de assumir as rédeas da nação através do exercício da Presidência da República, não era crível. Ninguém, nessa luta incansável e até mesmo desleal pelo poder, abriria mão do cargo mais importante do país, em detrimento de uma “ex-presidente ainda em exercício”.
Se neste momento, a ministra tocantinense encontra-se numa “sinuca de bico”, isto deve ser creditado a um erro de estratégia. Kátia Abreu quer continuar na defesa de Dilma; seu partido, o PMDB, não. A confluência de objetivos entre as duas legendas se esvaiu. As “teses ideológicas” – após três minutos de reunião – se tornaram antagônicas. Os interesses pessoais prevaleceram. Kátia também cuida e defende os próprios interesses, é evidente, mas agora, sem sustentação partidária. A sinalização é que ela volte ao ninho do PSD, que inclusive ajudou a fundar, com Gilberto Kassab. De qualquer forma, o PR já a convidou, o que mostra que o passe de quem tem assento no Senado é interessante.
O certo é que, por fim, a ministra da Agricultura está em meio a um fogo cruzado dentro do PMDB. Ocupada demais com sua própria pele, como também com o que ainda resta da carcaça da presidente Dilma Rousseff, a Prefeitura de Palmas é assunto secundário, por ora. Entretanto, uma reflexão se faz necessária: se Kátia Abreu não trocar de legenda – por “pirraça” ou orgulho ferido e continuar no PMDB – a sucessão pode servir de palco para a peça denominada “O Troco”, e acabar por fragmentar – de novo(!) – o historicamente estremecido PMDB tocantinense.
No que concerne a Gaguim, outro desafeto dos peemedebistas, ao se desfiliar do PMB, durante a janela de transferências e assumir a liderança do PTN em âmbito tocantinense, o ex-governador se declarou candidato a prefeito de Palmas em 2016. Será? É bem improvável.
O problema é que além do PTN ser praticamente inexpressivo em território tocantinense, o que obrigaria Gaguim a costurar apoios visando a governabilidade, sabe-se lá a que preço. Sem contar que deputado federal acusou outro golpe: o PMB lhe escapou pelos vãos dos dedos. Rose Amorim, ex-primeira-dama do Estado e indicada de Gaguim, foi alijada da presidência regional da sigla. O partido agora, por determinação da presidente nacional, Suêd Haidar, está alinhado com o Palácio Araguaia.
Pois bem. O fato é que se hipoteticamente e, ao mesmo tempo paradoxalmente, Kátia e Gaguim optarem por apoiar, política e financeiramente, o atual prefeito – o que não é impossível, por mais incrível que possa parecer – o prefeito ganha uma sobrevida e anotaria o terceiro tento.
O problema, neste caso, é que os três são “elétricos”, egocêntricos, dificilmente aceitam opiniões contrárias e são, por assim dizer, pavio curto. A chance de uma aliança desta navegar em águas calmas, é, pelo menos a princípio, impossível.
O jogo da sucessão municipal nos bastidores já começou! E nunca foi tão disputada nem teve tantas “cortinas de fumaça” como desta vez.