Irmão de Jaime Ferreira afirma que informação circulou em redes sociais.
Político de Senador Canedo morreu após ficar 8 dias em UTI, em Goiânia.
A família vereador de Senador Canedo Jaime Ferreira (PROS), de 28 anos, que morreu após fazer uma cirurgia bariátrica, em Goiânia, denuncia que o Hospital Samaritano, onde o procedimento foi realizado, divulgou a informação sobre a morte antes que os parentes fossem devidamente comunicados. Irmão do parlamentar, Jamilton Neres de Oliveira disse que o assunto já era divulgado em redes sociais pelo menos uma hora antes da oficialização.
“Um enfermeiro da UTI [Unidade de Terapia Intensiva] me ligou por volta das 20h30 de sexta-feira [24]. Ele disse que a gente deveria ir até o hospital com os documentos do Jaime, pois ele não tinha resistido. Foi quando eu tentei falar com a minha mãe e ela já estava sabendo. Algumas pessoas viram a notícia circulando nas redes sociais, desde às 19h30 daquela data, e já tinham ido lá na casa dela. Foi uma situação muito difícil”, relatou.
Jamilton disse que, como o irmão era uma pessoa pública, muita gente ligava no hospital para saber sobre o estado de saúde dele. No entanto, família já tinha proibido a unidade de passar qualquer informação. “Eu mesmo pedi isso pessoalmente e pedi que não falassem nem mesmo com familiares por telefone. Não queria que o assunto ficasse circulando por aí, mas, infelizmente, vazaram logo a notícia da morte”, reclamou.
O jornal entrou em contato com o Hospital Samaritano, nesta segunda-feira (27), e a gerente de pessoas Marina Rosa confirmou que um enfermeiro ligou para a família após a morte do vereador, na noite de sexta-feira. No entanto, ela ressalta que o funcionário pediu para que os parentes comparecessem com os documentos, mas não falou que o parlamentar tinha morrido.
“Não avisamos sobre morte por telefone, pois os familiares ficam muito abalados. Assim, o funcionário pediu que eles viessem até o hospital, mas, quando eles chegaram, já sabiam que ele tinha falecido. Ainda não sabemos o que aconteceu, como essa informação vazou, mas a situação está sendo apurada. Além disso, estamos reforçando a proibição aos funcionários sobre o uso de celular nas dependências do hospital, exatamente para que esse tipo de situação não ocorra”, ressaltou Marina.
Já a assessoria de imprensa do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) destacou que soube do vazamento da informação sobre a morte do vereador pela imprensa e que vai apurar a conduta do hospital.
Jamilton diz que a família ainda estuda se vai entrar com uma ação contra a unidade de saúde. “É inaceitável que o hospital tenha uma conduta dessas. Imagina só como foi para minha mãe receber a notícia da morte desse jeito, por rede social. Não queremos que isso se repita com mais ninguém”, afimrou.
Morte
O vereador morreu após ficar oito dias internado na UTI do Hospital Samaritano. Segundo o irmão, a cirurgia de redução do estômago foi realizada no último dia 14. Dois dias depois, Jaime apresentou um sangramento e precisou ser operado novamente.
“Depois disso ele voltou para o quarto e, aparentemente, estava bem. No entanto, apresentava uma tosse e falta de ar. Foi quando, no dia 17, ele acabou indo para a UTI, onde ficou até a última sexta-feira, quando morreu”, contou o irmão.
Segundo Jamilton, durante o período de internação, o médico que fez a cirurgia chegou a dizer que Jaime estava indo bem e que, inclusive, teria alta médica.
“Até agora não sabemos o que aconteceu de verdade, pois não conseguimos falar com o médico. Mesmo enquanto meu irmão estava na UTI a gente tinha dificuldade em saber dele qual era a situação. Ele nunca nos acompanhava durante as visitas e era muito difícil encontrá-lo no hospital. Isso é o que deixa a gente indignado, pois em uma das poucas vezes que ele falou conosco disse que o Jaime estava bem”, reclamou.
O irmão revelou que o vereador sabia que o procedimento era de alto risco, mas mesmo assim quis ser operado. “Ele fez todos os exames pré-operatórios e estava bem, eu mesmo o acompanhei durante os exames. Mesmo assim, a gente tentou convencê-lo de que ele não precisava da cirurgia, que podia emagrecer fazendo exercícios, mas ele tinha a personalidade forte e queria de todo jeito. Por isso decidimos apoiá-lo”, contou.
Jamilton destacou que ainda espera que o hospital e o médico contatem família para explicar o que aconteceu. “A princípio o que houve foi uma fatalidade, mas ainda precisamos saber de tudo o que aconteceu, todos os detalhes do atendimento dele, para ter uma real noção do que aconteceu. Até agora ninguém nos procurou para falar nada”, disse.
Desejo por emagrecer
Jamilton diz que o irmão pesava 115 kg e tinha 1,75 metro de altura. Para ele, o irmão não estava gordo, mas ainda assim encontrou na cirurgia uma forma de emagrecer rapidamente. “Ele sempre quis fazer a cirurgia, não conseguimos tirar isso da cabeça dele, infelizmente”, lamentou.
Amigos e colegas de trabalho de Jaime já tinham dito que ele era sedentário e não praticava esportes. “Eu falava para ele parar com isso, que ele não estava tão gordo assim. Todo muito até fez uma campanha e disse que ia caminhar com ele, mas ele dizia não. Fomos todos contra [a cirurgia], pois foi tudo muito rápido, mas ele tinha uma coisa de querer resolver as coisas em menos de 15, 20 dias. Aí aconteceu isso”, contou Solange Gouveia.
Durante o velório e enterro do corpo do parlamentar, que foi realizado no último sábado (25), todos estavam inconformados com a morte. “Ele era muito querido na cidade. Além de vereador, era professor, então, conhecia muita gente. Ninguém consegue acreditar ainda”, destacou Jamilton.
O prefeito de Senador Canedo, Divino Lemes (PSD), também lamentou a morte de Jaime. “Ele era muito querido, muito trabalhador. Não é porque faleceu, mas era mesmo muito trabalhador”, ressaltou.
Histórico
Jaime estava no seu primeiro mandato como vereador. Segundo a assessoria da Prefeitura de Senador Canedo, ele foi eleito como suplente do vereador Sérgio Bravo Jr (PROS), que assumiu a Secretaria de Esporte e Lazer. Assim, o parlamentar tomou posse do cargo.
Nascido em São Paulo, Jaime se mudou para Senador Canedo em 2002. Em novembro de 2006, aos 17 anos, começou a ministrar aulas como aluno substituindo um professor na escola onde foi velado. No ano seguinte, começou a cursar biologia e química e continuou a lecionar.
Anos depois, ao lado de irmãos, fundou uma rede de escolas na cidade, que mais tarde também passou a contar com a primeira faculdade e instituto de pós-graduação do município. Ele era solteiro.
Segundo amigos, Jaime era apaixonado pela sala de aula. “Ele foi um professor que, na sua extravagância, era ousado. Então ele fez diferença, ele fez história na Educação de Senador Canedo. A sua busca sempre foi pelo crescimento da Educação”, contou a ex-colega de trabalho do vereador, Rosana Rodrigues.
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G1/Goias