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Metade dos feminicídios do Brasil são cometidos por parceiros ou ex-parceiros que
não aceitam o pedido de separação da vítima.

A afirmação é da pesquisadora
Lourdes Bandeira, professora do departamento de Sociologia da UnB
(Universidade de Brasília), que tem uma pesquisa em andamento, analisando 2 mil
casos de feminicídios ocorridos entre 2015 e 2018. O levantamento será divulgado
em março de 2019.

“As mulheres são vistas como propriedade sexual do homem. O assassino sente que
tem controle sobre o corpo dela e não aceita que outro homem possa se apropriar
dele”, afirma Bandeira.

“Não significa que todo homem é um feminicida em potencial, mas esses que matam se sentem autorizados por uma ideia coletiva de que a mulher pertence ao homem.”

Segundo Lourdes Bandeira, outras motivações identificadas são ciúme, suspeita de
adultério ou briga quando a vítima quer romper com uma situação de subordinação. “Todos os casos têm a ver com possessividade e com negar a condição de autonomia da mulher”, analisa.

Em sua pesquisa, a estudiosa concluiu também que o crime acontece com, no máximo, cinco anos de relacionamento.

No feriado de 12 de outubro, foram registrados quatro casos de feminicídio no
Estado de São Paulo e três deles aconteceram, justamente, porque os assassinos
não aceitavam a separação. Em um deles, a estudante Ellen Bandeira Rocha, 22
anos, foi morta pelo ex-namorado, Richardson Johnison Silva, 30 anos, em sua
casa, com cinco tiros.

Os dois começaram a namorar em janeiro e, em junho, ela rompeu a relação. Desde
então, ele a ameaçava. Já tinha tinha tentado matá-la duas vezes, com uma faca e
enforcada, até o dia que consumou o crime. Familiares relataram que o assassino
de Ellen afirmava, com frequência: “Se ela não for minha, não será de mais
ninguém”.

Um crime brutal

Ainda sobre a pesquisa, Lourdes Bandeira afirma que uma das conclusões mais
surpreendentes foi perceber a brutalidade com que os feminicídios são feitos.
“Vários deles são cometidos com muitas facadas, 20, 30. Também há decapitação e
queima de corpo”, diz, e completa: “ou então, na presença dos filhos menores. É
chocante.”

A promotora de Justiça e integrante do Gevid (Grupo de Enfrentamento à
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher) do Ministério Público do Estado
de São Paulo, Fabíola Sucasas, afirma que os casos de feminicídios são marcados
também por episódios anteriores de violência. “Muitas vítimas querem romper a
relação justamente para sair dessa violência, mas acabam sendo mortas.”

Segundo Fabíola Sucasas, a orientação é que, no primeiro episódio de agressão, a
mulher procure um centro de atendimento à vítima de violência doméstica.

“Notamos que há uma escalada de violência nos casos de feminicídio. Então, às
vezes, a agressão pode ser mais do que uma simples ameaça: ela pode estar prestes
a ser morta.”

No caso de querer se separar, a promotora diz que o serviço de atendimento pode ajudar a mulher a pedir medidas protetivas contra o agressor. Outra orientação importante é ligar 180, número da Central de Atendimento à Mulher, do governo federal, que dá orientação sobre direitos e serviços públicos disponíveis para vítimas em todo o país.

Fonte: Camila Brandalise via Uol Universa

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