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‘Não desejaria a ninguém’, diz estudante indígena da UFT ameaçado em bilhete

Estudantes e professora foram à sede da Polícia Federal em Araguaína registrar o caso. Pai de estudante ameaçado diz que vai levá-lo de volta para aldeia: ‘O povo está muito preocupado’.

“Eu não desejaria para ninguém. É uma dor que ao mesmo tempo dá força para a gente lutar e ir mais adiante”, as palavras são do estudante indígena da Universidade Federal do Tocantins, Kayman Karajá, que teve o nome citado em um bilhete ameaçador. O caso ganhou repercussão e nesta quarta-feira (20). Indígenas e outros estudantes do campus de Araguaína da UFT fizeram uma manifestação.

Eles dançaram e cantaram na língua Karajá, em apoio ao estudante que foi ameaçado. Dois bilhetes foram encontrados na mochila de uma indígena na última terça-feira (18).
Em um deles, o autor que ainda não foi identificado faz ameaça: “Índio não tem vez aqui na UFT. Vou tirar todos os índios do meu caminho”. No outro, dois indígenas são citados: “Primeiro vai ser a Raiane e Kainã fica esperto”.

Após a manifestação na UFT nesta quarta-feira, os dois jovens ameaçados e uma professora da UFT foram para a Polícia Federal e relataram o caso. Foi feito um boletim de ocorrência para que o caso seja investigado.

“Caso a vítima entenda por querer resguardar os seus direitos, ela pode procurar a defensoria pública. De maneira coletiva, qualquer indígena que se sentir lesado por essa ameaça que aconteceu, pode também verificar atendimento na defensoria para resguardar os seus direitos”, disse o coordenador do grupo de Minorias da Defensoria Pública do Tocantins, Pablo Mendonça.

Com medo, o pai do Kayman, Gilvan Karajá, disse que vai levá-lo para a aldeia. “A gente vai ver se ele vai ficar sem estudar ou não, mas no primeiro momento nós vamos levar ele. O povo lá está muito preocupado de acontecer algo inesperado, de coisas ruins”.
“Eu sei o que o preconceito com indígenas e quilombolas vem desde muito tempo, mas o que eu passei eu não desejaria a ninguém, nem indígena, nem quilombola”, disse Kayman Karajá.

Indígenas que estudam na UFT ficaram indignados com o racismo e desrespeito. “Somos todos iguais, a gente está aqui na universidade para estudar, a gente quer respeito”, argumentou a estudante Daniela Guajajara.

“Receber um bilhete dessa forma, agressivo, não só contra um aluno mas contra todos os povos indígenas, para a gente foi um tapa na cara. Enquanto indígenas, não poderíamos deixar de falar alguma coisa, porque quando nos calamos, aceitamos esse preconceito”, reclamou o estudante Railton Karajá.

A UFT foi a primeira universidade brasileira a instituir o sistema de cotas para estudantes indígenas. Em 2004, a resolução elaborada pelo Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Consepe) e pela Secretaria Especial para Promoção de Políticas de Igualdade Racial (Seppir) reservou 5% de vagas do vestibular da UFT para estes candidatos. Desde então, vários de diversas etnias de todo o Brasil tem ingressado na UFT.

Nesta quarta-feira, a direção do câmpus de Araguaína informou que recebeu uma denúncia no final da tarde desta terça-feira e que abriu um processo de investigação interna para apurar os fatos, após isto irá tomar as medidas cabíveis.

O caso é tratado como racismo e discriminação pelo Movimento Estudantil Indígena e Quilombola (MEIQ). Em nota, os representantes do movimento disseram que desde junho de 2018, em que surgiu o movimento, vários ataques surgiram como forma de desestabilizar e ameaçar os estudantes indígenas e quilombolas.

“Esses ataques sempre existiram, porém, estão cada vez mais evidente, em forma de bilhete, mensagens em grupos e até rabiscos feito em banheiro ameaçando estudantes tanto indígena quanto quilombola. Estamos sendo atacados de todos os lados desde ameaças por parte de ‘colegas de sala’, até retiradas de direitos básicos, que nos mantêm na faculdade”.

G1 Tocantins.

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