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Marconi é solto e deixa sede da PF um dia após ser preso suspeito de receber propina da Odebrecht

Em depoimento, ele negou saber de qualquer entrada de dinheiro ilícito em suas campanhas.

O ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) deixou, às 16h37 desta quinta-feira (11), a sede da Polícia Federal, em Goiânia, pouco mais de 24 horas após ser detido enquanto prestava depoimento no âmbito da Operação Cash Delivery. Ele é investigado por receber mais de R$ 12 milhões em propina da Odebrecht para campanhas eleitorais.

O tucano saiu em uma Mitsubishi Pajero branca. Estavam no carro o motorista, um homem no banco da frente e Perillo, sozinho, no banco traseiro. Um segurança fez a escolta do lado de fora do carro.

Logo após sair da Polícia Federal, ele foi para a Catedral Metropolitana de Goiânia, conforme confirmou a assessoria do político. Imagens feitas no local mostram o Perillo com as mesmas roupas que usava ao deixar a sede da PF ajoelhado em um dos bancos da igreja. Também conforme a assessoria, ele entrou, rezou e foi embora para a casa.

Marconi Perillo (PSDB) é visto rezando na Catedral Metropolitana de Goiânia logo após sair da PF — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Marconi Perillo (PSDB) é visto rezando na Catedral Metropolitana de Goiânia logo após sair da PF — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

A Polícia Federal indiciou Perillo por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa. O órgão concluiu que há indícios suficientes dos crimes imputados ao ex-governador. Agora, caberá ao Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) decidir se vai denunciá-lo ou não à Justiça Federal.

O desembargador Olindo Menezes, da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), expediu, no início da tarde, o habeas corpus de Perillo, a pedido da defesa do tucano. No despacho, o magistrado afirma que a decisão não implica que o preso “seja inocente”, mas que “não há, pelos fundamentos da decisão, a demonstração da necessidade da sua prisão cautelar”.

O advogado de Perillo, Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, disse que a prisão de Perillo foi “arbitrária, infundada e, de certa maneira, afrontava outras decisões de liberdade que já foram concedidas nesta mesma operação”.

“A defesa não tem nenhuma preocupação com os fatos investigados e temos absoluta convicção na inocência plena do Marconi. O que pedimos, desde o início, é o respeito às garantias constitucionais. Ninguém está acima da lei e apoiamos toda e qualquer investigação, mas sem prejulgamentos e sem o uso desnecessário de medidas abusivas”, afirmou, em nota.

Marconi é indiciado pela PF por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa

Marconi é indiciado pela PF por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa

Detido em sala da PF

Perillo chegou à sede da PF às 13h de quarta-feira (10) para prestar depoimento, que estava marcado para as 15h. Além de chegar duas horas antes, ele entrou pelo portão do fundo da unidade.

Os policiais cumpriram o mandado de prisão preventiva logo no início da oitiva, por volta das 14h30. Ele ficou preso, segundo o advogado do ex-governador, em uma sala considerada “razoável”, com sofás e um banheiro privativo.

Sede da Polícia Federal em Goiânia, onde Marconi Perillo passou a noite — Foto: Paula Resende/G1

Sede da Polícia Federal em Goiânia, onde Marconi Perillo passou a noite — Foto: Paula Resende/G1

O ambiente fica no segundo andar do prédio, um acima de onde ficam as três celas da unidade, que estão ocupadas por suspeitos de explodir caixas eletrônicos de uma agência em Bom Jesus de Goiás.

De acordo com a Polícia Federal, o tucano se enquadra no artigo 295 do inciso VII do Código de Processo Penal, que prevê uma acomodação separada para presos que tenham curso superior. A mesma norma também determina isolamento de detentos que ocupem cargos no Executivo ou sejam ministros religiosos, por exemplo.

Dois policiais federais armados estavam de plantão fazendo a vigia de Perillo. Ele não teve direito a banho de sol, mas recebeu a visita de dois advogados.

Depoimento de Perillo

O ex-governador respondeu a 51 perguntas feitas pela Polícia Federal, em Goiânia. Conforme documento obtido pela TV Anhanguera, Perillo negou o recebimento de R$ 12 milhões de propina pela Odebrecht para campanhas políticas afirmando que todas as doações recebidas por suas candidaturas foram feitas dentro da lei.

No interrogatório, o ex-governador foi questionado sobre todos os trechos das delações dos executivos da Odebrecht, no âmbito da Operação Lava Jato, em que foram citados os nomes dele e de Jayme Rincón, ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), ex-diretor financeiro da campanha de Perillo em 2010 e apontado como braço direito do tucano.

Perillo disse que os recursos de suas campanhas “foram rigorosamente de acordo com legislação eleitoral vigente” e que “nunca tratou de operacionalização de recebimento de valores para campanha com Jayme Rincón”.

Jayme Rincón sorri ao ser solto, na sede da Polícia Federal, em Goiânia — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Jayme Rincón sorri ao ser solto, na sede da Polícia Federal, em Goiânia — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Questionado sobre ter supostamente recebido doações não declaradas da Odebrecht por meio de Rincón, Marconi Perillo disse que “não teve esta informação porque teria dito que as doações deveriam ser legais, até porque precisavam fechar a prestação de contas de acordo com a lei eleitoral vigente”. Segundo o tucano, Rincón foi indicado para tratar das finanças da campanha por ser “uma pessoa de confiança”.

O ex-governador disse ainda que “não possui amizade/inimizade ou mesmo relacionamento” com qualquer um dos executivos da Odebrecht e negou ter pedido dinheiro a Fernando Reis, quem afirma ter conhecido durante um jantar na casa do ex-senador Demóstenes Torres, cassado em 2012 acusado de usar o mandato para favorecer o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que cumpre pena em regime semiaberto por fraudes na loteria carioca.

G1 entrou em contato com Demóstenes e com o advogado de Cachoeira, por mensagem nesta tarde, e aguarda posicionamento.

Operação Cash Delivery

Cinco pessoas foram presas quando a Operação Cash Delivery foi deflagrada no dia 28 de setembro e cumpriu mandados em endereços ligados a Marconi Perillo. Foram presos Jayme Rincón; o filho dele, Rodrigo Godoi Rincón; o policial militar e motorista de Rincón, Márcio Garcia de Moura; o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior; e o advogado Pablo Rogério de Oliveira. Todos já estão em liberdade.

Foram apreendidos R$ 80 mil na casa de Jayme Rincón. Outros R$ 940.260, na casa do motorista dele. O militar, o empresário, o advogado e o filho de Rincón negaram, após serem presos, envolvimento no esquema.

Segundo o MPF, mesmo que o motorista de Rincón não seja “o dono do dinheiro e sim o encarregado de escondê-lo”, o policial “preferiu manter-se em silêncio, a apresentar versão que explicasse ou justificasse a origem […], ou mesmo buscasse obter benefícios legais previstos para o investigado colaborador”. O documento afirma que o policial não se pronunciou “seguindo as instruções do advogado que lhe fora contratado sem que ele sequer tivesse conhecimento”.

G1 não localizou a defesa de Moura para pedir um novo posicionamento a respeito do caso.

Pedido de prisão de Marconi

O Ministério Público Federal (MPF-GO), ao pedir a prisão do ex-governador, afirmou que o grupo que ele lideraria se assemelha a “organizações criminosas do tipo mafioso, que buscam preservar a sua existência através da Omertá, ou Pacto do Silêncio”. O órgão se refere ao silêncio em depoimento à PF do policial militar e motorista de Rincón, Márcio Garcia de Moura.

Os procuradores afirmaram ainda, no pedido de prisão, que a prisão preventiva do ex-governador é indispensável para cessar os atos criminosos da organização investigada: “necessidade urgente da prisão do próprio chefe maior, que só não foi requerida antes em razão da imunidade temporária à prisão lhe conferida pela lei eleitoral aos candidatos às eleições de 2018”.

Também de acordo com o MPF, mesmo não ocupando nenhum cargo público atualmente, Perillo segue com considerável influência no governo. O órgão cita que o ex-governador estaria articulando para, caso não conseguisse uma cadeira no Senado nessas eleições – o que de fato não ocorreu, fosse indicado para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas da União (TCU), como o cunhado dele.

Ao conceder o pedido de prisão, o juiz afirmou que a apreensão do dinheiro não declarado nas casas de Rincón e Moura, quando foi deflagrada a Operação Cash Delivery, é evidência de que a organização investigada continua agindo.

No mandado de prisão, o magistrado disse ainda que há indícios de que o grupo não recebia doações ilícitas somente da Odebrecht. “Referida estrutura reforça os elementos colhidos até então, demonstrando que Marconi Perillo utilizou-se de sofisticada estrutura para lavagem de dinheiro, ocultando a propina recebida por meio de ‘empresas parceiras’”.

Investigação

Na denúncia feita pela Polícia Federal quando a operação foi deflagrada, Marconi Perillo é citado como líder do esquema. Jayme Rincón é apontado como braço-direito do ex-governador, responsável pela entrega do dinheiro solicitado pelo político. O filho de Jayme, Rodrigo Rincón, teria colaborado diretamente com o recebimento do dinheiro, tendo sido beneficiário de parte dos pagamentos.

Além disso, segundo os investigadores, os policiais militares Sergio Rodrigues de Souza (falecido) e Márcio Garcia de Moura teriam transportado o dinheiro a pedido de Marconi, assim como Pablo Rogério de Oliveira e Carlos Alberto Pacheco Junior.

Escutas da Polícia Federal presentes no inquérito que culminou na Operação Cash Delivery, obtidas pela TV Anhanguera, mostram um diálogo que, segundo a corporação, revela a entrega de R$ 1,2 milhão em propina da Odebrecht para campanhas de Perillo em 2010 e 2014.

Outro documento, também obtido pela TV Anhanguera, mostra que o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior confirmou à Polícia Federal que prestou serviços a uma empresa onde, segundo as investigações, foram entregues R$ 1,8 milhão da Odebrecht. Na ocasião, ele também disse nunca ter recebido nenhuma quantia ilícita da empreiteira.

No inquérito consta que Perillo, ao solicitar os valores para suas campanhas, se mostrava favorável às demandas da Odebrecht em Goiás, como, por exemplo, na construção do VLT, que não saiu do papel, além de obras de esgoto no Entorno do Distrito Federal.

Jayme Rincón disse em depoimento à PF que “recursos” para campanhas eleitorais de candidatos aliados foram entregues pela Odebrecht a seus motoristas no apartamento que tem em São Paulo, onde Rodrigo, seu filho, mora.

Na ocasião, o ex-presidente da Agetop também disse que esses valores eram “destinados, em sua maioria, para campanhas de candidatos aliados” e que “parte dos valores era oficializado com ajuda de empresas parceiras” – o que pode configurar lavagem de dinheiro, de acordo com a PF. Rincón disse ainda que “todo o montante destinado à campanha de Marconi Perilllo foi legalizado”.

Perillo na política

Marconi começou a carreira política em 1990, quando foi eleito deputado estadual em Goiás. Quatro anos depois ele se candidatou a deputado federal pelo estado e foi eleito. Já em 1998 o tucano concorreu e ganhou o pleito para governador do estado, derrotando o atual prefeito de Goiânia, Iris Rezende (MDB).

O político governou o estado por oito anos consecutivos, já que foi reeleito em 2002 e foi o chefe do executivo de Goiás até 2006. No mesmo ano, ele renunciou ao cargo e se candidatou a senador pelo estado e, neste mandato, chegou a ser vice-presidente da Casa.

Já em 2010, Perillo voltou a governar Goiás e foi reeleito em 2014, mesmo tendo sido citado na Operação Monte Carlo, em 2011, por ligações com Carlinhos Cachoeira. No mês de abril de 2018 o político renunciou ao cargo para concorrer novamente a uma cadeira no Senado. Desta vez, apesar de ter iniciado a disputa em 1º lugar nas pesquisas, ele terminou o pleito em 5º lugar e não foi eleito, após a Operação Cash Delivery.

G1 Tocantins.

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