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Colégio Família Agrícola em conflito, prefeito de São Salvador faz ameaças

Sonho interrompido: Alunos, pais e funcionários lamentam a demissão do coordenador Cirineu da Rocha, do (CEFA) Jose Porfírio de Souza em São Salvador do Tocantins que por politicagem foi exonerado do cargo.

Momento de descontração no colégio.
Momento de descontração no colégio.

O clima tem sido de tensão no Colégio Estadual Família Agrícola José Porfírio de Souza, de São Salvador do Tocantins. Desde que o prefeito André Borba assumiu a prefeitura do município há pouco mais de quatro meses, ninguém mais pôde trabalhar, o clima de angustia e terror tem acompanhado toda equipe de funcionários e colaboradores do referida colégio. Por implicância e politicagem o prefeito Borba não fez mais nada ao seu município, a não ser tentar acabar com o colégio que o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragem), lutou por anos para construir.

De acordo com as primeiras informações e gravações, o prefeito com ajuda de alguns políticos dentre eles a deputada federal Josi Nunes, e outros nomes de lideranças da região de Palmeirópolis não mencionados aqui, resolveram mandar embora todos que não votaram e nem apoiaram André Borba nas eleições para prefeito. Ou seja, no colégio só iam continuar apenas quem estava do lado dele e se envolveu na campanha para prefeito ano passado.

Na abertura do ano letivo, a equipe do colégio foi pega de surpresa quando recebeu a presença do prefeito todo arrogante ao referir que a escola pertencia ao seu município e ali só iam ficar quem ele quisesse e fazia questão de estar presente em todas as reuniões. Como se o colégio pertencesse somente a ele. O prefeito André Borba em momento algum pensou nos alunos, nos funcionários, nos pais, no sonho e na luta do povo para abrir o CEFA – José Porfírio, um sonho dos ribeirinhos atingidos pela barragem da região indo embora por políticos incompetentes e despreparados.

Na reunião de posse do novo diretor, o engenheiro Agrônomo Carlos Gomes o clima piorou. Com a presença da Diretora Regional de Ensino (DRE), no momento de uma reunião fechada para receber o novo diretor Carlos Gomes, Cirineu da Rocha explicou todo o processo do colégio, das conquistas e parcerias construídas ao logo do tempo, relatou que sua saída representa uma ruptura ao processo de dialogo e construção que vem sendo feito com os diversos parceiros. Parte do que o colégio utiliza pertence a associação e aos agricultores, ou seja os alojamentos, refeitório, cozinha, banheiros com vestiários, ferramentas (enxadas, foices, facão, entre outros) e panelas, não pertencem ao colégio, mas sim a associação e agricultores.

Cirineu disse ainda, que não estava ali duvidando do trabalho ou do profissionalismo do novo diretor Carlos, mas sim, do que ele representa, ou seja, uma ruptura do processo construído há anos, e que por capricho do atual prefeito que não tem preocupação de uma educação de qualidade para os filhos/as dos trabalhadores/as, tem tentado trocar os profissionais com capacidade técnica por outros com objetivo de assim cumprir com suas “promessas de campanhas”.

Disse ainda que o novo diretor tinha a oportunidade de se demitir ou deixar em seu currículo a mancha que contribuiu para acabar com os sonhos de centenas de jovens e com um colégio que vem dando certo, se o mesmo não se demitir todos os servidores/as que acreditam que o que esta acontecendo é algo muito ruim para a construção de um colégio de referencia em Educação do Campo iram se demitir.

No final da posse, em uma reunião fechada com a DRE e os agricultores, o prefeito chegou novamente de surpresa e continuou aterrorizando as pessoas, dizendo que o nome do Colégio   José Porfírio é um nome de um terrorista, que só este nome já é uma vergonha para colégio e o município. E que não voltaria atrás com a ideia dele, disse ainda que o Cirineu manipula o povo e implanta idéias na cabeça dos mesmos, deixou bem claro que não está nem um pouco preocupado se o colégio acabar.

De acordo com André, ele tem o aval do governador e de assessores do governo Marcelo Miranda para trocar e tirar quem ele quiser. Acrescentou ainda que tinha que passar um corretivo nos professores. Frase esta até agora não explicada.

Associação deu prazo de 15 dias para o novo diretor se demitir, se isso não acontecer vai tomar de volta o Centro Comunitário onde fica o alojamento e o refeitório todo equipado, tudo pertence a associação e não a escola. Computadores, biblioteca, material, ou seja, a escola vai ter que começar do zero.

Não conseguimos falar com o novo diretor Carlos Gomes para saber qual a ideia dele sobre este assunto, vamos continuar tentando.

Em menos de quatro (4) meses um prefeito assume e destrói o sonho de mais de dez (10) anos de luta das associações e comunidades regionais que era a construção de um Colégio Família Agrícola. Que apenas com um ano de funcionamento já fez a diferença na vida de estudantes das comunidades mais carentes do município de Paranã, São Salvador, Palmeirópolis, Jau do Tocantins e Peixe.

Qualquer líder politico em sã consciência queria uma escola deste porte no seu município, com visão de um abatedouro de frango, e aguardando vários outros projetos com recursos de grandes empresas, uma alavancada a qualquer município. Fica aqui a pergunta porque o prefeito André Borba quer acabar com o colégio…?

Até o fechamento desta matéria apenas um vereador de São Salvador se mostrou interessado no assunto, vereador Pesão, os demais estão a favor do prefeito, ou se esconde por medo.  O vereador Fabio Gonçalves do município de Palmeirópolis, o vereador Pesão do município de São Salvador disseram que vão mandar oficio e pedir uma audiência pública para tratar com dignidade do assunto. Os vereadores da cidade de Jaú todos estão empenhados na causa do colégio.

O professor e coordenador do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragem, Cirineu da Rocha, foi exonerado de um projeto de colégio que ele mesmo idealizou, sonhou, e junto com uma equipe, lutou para fundar e manter funcionado a partir da Pedagogia da Alternância. Ajudando agricultores familiares, camponeses, ribeirinhos e quilombolas, as famílias a formar seus filhos com dignidade.

Um colégio agrícola apenas começando e agora prestes acabar. Dezenas de alunos do Colégio Família Agrícola José Porfirio de Souza, se mobilizaram em protesto contra a demissão do professor Cirineu, que lutava há mais de dez (10) anos junto com sua equipe para que o mesmo fosse aberto.

Tinha o apoio da Tractebel Energia e aguardava apenas o terreno para implantar o tão desejado sonho. Um acordo feito entre a empresa e os ribeirinhos atingidos pela construção da barragem na época. Nenhum prefeito quis doar o terreno, aliás nenhum político acreditou nesta história de “Escola Agrícola”, muitos até usaram o palanque para pedir votos e prometeram ajudar, a abrir a referida escola, porque era bom para a região. Diziam nos palanques, ”temos meio milhão da Tractebel para abrir uma escola e vamos colocar isso para funcionar, porque até agora ninguém fez, eu vou fazer”, Ilusão e promessas, nada disso foi feito.  Apenas promessas. Outros, criticaram dizendo que era uma ideia de doidos, Flavio Gonçalves muitas vezes foi chamado de “o doidinho”, por políticos de Palmeirópolis que pensam apenas em si.

Os anos se passaram e novos prefeitos assumiram, e nada, ninguém interessou pelo projeto. Tempo depois, o ex prefeito de São Salvador Charlles Evilacio, resolveu abraçar a causa e doar o prédio já pronto para funcionar a escola Agrícola na região da Piabanha. Em parceria com vários municípios a escola foi aberta e inaugurada ano passado pelo governo do estado que se empenhou em contratar o quadro de funcionários.

Equipe trabalhando, mais de 180 Educandos/as matriculados, outros na lista de espera. Ainda com muita luta para aprovar projetos, adquirir merenda escolar, mais colégio indo de “vento em polpa”, toda equipada, com recursos da associação, sobrevivendo sem depender muito de políticos, até o prefeito André Borba assumir a prefeitura e começar a guerra, as ameaças, o verdadeiro terror. A primeira coisa que ele fez, mostrou poder, “vou mostrar quem manda aqui”, disse com tom de arrogância. Amedrontando todos que ali estavam. “No mundo em que vivemos a gente pensa que já viu de tudo né? ”, disse uma moradora indignada com situação. “A cidade de São Salvador com tanta coisa para fazer, tantas obras a realizar, o prefeito preocupado com quem demitir no colégio, para colocar os deles”.

Ele (prefeito), correu atrás dos políticos maiores e pediu a exoneração do diretor Cirineu da Rocha, autor do projeto do colégio. Ele foi demitido e tudo indica que por “politicagem”, sem ter recebido nenhuma explicação ou motivo por parte do estado e prefeitura. Com ele, alguns nomes foram citados pelo prefeito André também para retirar da lista de funcionários. Simples assim: “Não quero ninguém da oposição nesta escola”, declarou entusiasmando o prefeito.

O bate-boca maior foi na posse do novo diretor, Carlos que chegou humilde sem saber a dimensão do problema. O prefeito chegou sem ser convidado e adentrou a sala com palavras de baixo calão entre os presentes, partiu para baixaria, com voz alterada, tenso chamou um dos funcionários de moleque, batia no peito e dizia “Eu tenho dois coco, sou homem, não tô nem aí si esta escola acabar”. Num dos momentos mais tensos, o prefeito André Borba detonou o nome da escola José Porfirio de Souza, dizendo que era uma escola de movimento e não servia para educar ninguém. Você parece um moleque, referindo a Sebastião Wagner, idealizador e funcionário da escola, o prefeito fez questão de dizer na cara, que ele não era bem-vindo na escola. Após tomar conhecimento do afastamento do coordenador, os professores, alunos, funcionários e os pais ficaram decepcionados e estão tomando as devidas providencias.

Conheça um pouco da história do Colégio Agrícola

O Colégio Estadual Família Agrícola José Porfírio de Souza, nasceu a partir de uma negociação após a implantação das Usinas Hidrelétrica de Peixe Angical e São Salvador do Tocantins, como forma compensatória as famílias atingidas, seria construída uma Escola Família Agrícola – EFA, que atenderia a todos os reassentamentos e demais famílias de agricultores familiares da região, sendo pactuado no documento “Termo de Compromisso para Implantação de Reassentamentos Coletivos” assinado pelos componentes do foro de negociação em outubro de 2008, onde ficaram definidas as responsabilidades das partes envolvidas, cabendo à CESS o aporte de recursos financeiros para aquisição de área e construção da Escola Família Agrícola e às famílias reassentadas e o MAB – Movimento dos Atingindo por Barragens, discussão e articulação da proposta pedagógica com a participação da Secretaria de Educação do Estado do Tocantins.

O entendimento das comunidades atingidas é que a construção da Escola Família Agrícola seria de extrema importância para além do pedagógico construir também um debate sobre o planejamento e organização da produção de alimentos para a região onde foram construídas as hidrelétricas de São Salvador, Cana Brava e Peixe Angical, incluindo as regiões Sul e Sudeste do Estado do Tocantins.

Assim,ao longo de 10 anos foram realizadas diversas reuniões com a SEDUC – Secretaria de Educação do Estado do Tocantins, com a participação de representante da CESS, Tractebel Energia, prefeitos, bem como reuniões com as famílias dos reassentamentos e demais comunidades de agricultores familiares da região, que resultaram na constituição da Associação de Apoio à Escola Família Agrícola José Porfírio de Souza, que tem como objetivos principais: I) A promoção do desenvolvimento rural sustentável, através da educação, da formação dos jovens, valorizando o espírito de solidariedade e respeito ao meio ambiente; II) A formação integral, visando uma educação pautada em valores humanos, técnico-científico e artístico-cultural, garantindo aos jovens do campo uma melhor qualidade de vida; III) A geração de trabalho e renda através da pré-profissionalização dos jovens estudantes.

Após ter um tempo sem discussão e reuniões, mas acreditando ser possível, em 2015, teve uma retomada dos debates sobre a implementação da Escola Família Agrícola José Porfírio de Souza, através de reuniões e debates entre a Secretaria de Educação, prefeituras da região e as comunidades, Reassentamentos e Assentamentos das Regiões Sul e Sudeste do Tocantins, que resultou por parte da prefeitura de São Salvador através da lei nº 386/2015 de 13 de Fevereiro de 2015, a doação ao Estado do Tocantins das estruturas da Escola Piabanha I, com sua respectiva área, localizada no Reassentamento Piabanha I. Na época com ajuda do prefeito Charles Evilacio M. Barbosa, que abraçou a causa da escola.  Antes nenhum prefeito da região se interessou pelo projeto, muitos até levaram na brincadeira e não deram nenhuma atenção ao assunto. Não acreditaram na equipe do Cirineu da Rocha,Judite, Flavio Gonçalves, Sebastião Wagner e muitos outros que muitas vezes foram chamados de doidinho na época por alguns políticos.

Mas para a efetivação da unidade escolar e a necessidade de mais  espaços para alojamento a Associação dos Agricultores do Reassentamento Piabanha-I, cedeu o Centro Comunitário e a área comunitária para implementar o alojamento e as unidades de produção.

Acreditando que com toda essa junção de forças e apoio levou o governador Marcelo Miranda, a sancionar a lei nº 3.040/2015, criando o Colégio Estadual Família Agrícola José Porfírio de Souza no Município de São Salvador do Tocantins.

Assim em 07 de março de 2015 inicia as atividades da referida unidade escolar, com um prédio doado pelo município e alojamento cedido pela associação e os demais aportes sendo coletados através de doação e empréstimo garantindo assim seu funcionamento.

Desta forma informamos, que até o presente momento o Estado do Tocantins não fez nenhum repasse de verba para aquisição de bens de capital, o que significa que a unidade escolar por iniciativa de seu gestor e através do trabalho árduo tem garantido o atendimento de educandos através de doações e empréstimos de equipamentos, bem como o uso de materiais e equipamentos particulares.

Diante das considerações acima a escola agradeceu o repasse de recursos da merenda escolar e da Gestão Compartilhada, bem como as contratações para o funcionamento da unidade escolar, e pede que o olhar à unidade transpassasse a questão política, pois a metodologia adotada da Pedagogia da Alternância, que funciona como um semi-internato requer muito mais do que apenas estruturas, requer dedicação, compromisso, amor.

Pois a unidade escolar atende um público diferenciado, com um grupo significativo de alunos desacreditado do sistema convencional de ensino. Além disso é uma escola do campo, onde os alunos se deslocam de outros municípios para serem atendidos, as vezes necessitando serem encaminhados para casa antes do previsto e tudo isso feito com carro cedido e com combustível dos profissionais dessa unidade escolar, ou por um ônibus escolar que pega os alunos no início da semana.

A construção dessa unidade de ensino tem como objetivo um novo projeto de desenvolvimento para a região sul/sudeste do Estado do Tocantins, que está mais isolada e que, portanto, necessita de um trabalho que venha auxiliar no seu crescimento e nada melhor do que através da melhoria da educação do povo que aqui reside. Essa proposta deve ser pautada num pensar de políticas, princípios e métodos pedagógicos comprometidos com a tarefa de proporcionar à população condições de se manter na escola, garantindo assim essa mudança e melhoria não só de sua população, mas de toda a região.

Então é necessário pensar que para um Projeto de Educação do Campo dar certo, primeiramente devemos repensar sua concepção de educação, lembrando que esta deve estar preocupada com o desenvolvimento humano de todas as pessoas, de todo mundo. Nesse sentido não podemos esquecer que para isso precisa contrapor-se um pouco aos valores anti-humanos que sustentam o formato da sociedade capitalista atual, ou seja, o consumismo, o individualismo, o egoísmo, o conformismo e reafirmarmos práticas e posturas humanizadoras como a solidariedade, a sobriedade, a indignação diante das injustiças, a autoconfiança, a esperança e o amor ao próximo entre outras.

Diante de todo o exposto gostaríamos que os políticos, dentre ele o governador do Tocantins que entendesse a importância de nosso gestor Cirineu da Rocha, nesse processo, tendo sido ele o grande líder na busca e nas discussões para a efetivação dessa unidade de ensino, estando a frente das discussões ao longo desses dez anos, garantindo a manutenção da ideia e a implementação de fato da unidade escolar, cancelando sua exoneração para que o trabalho iniciado não se encerre nesse momento, mas que possa produzir bons frutos e bons resultados para a sociedade tocantinense.

Este colégio foi de uma luta grande e agora por questão política muda todo o foco.  Por questão partidária a prefeitura de São Salvador achou melhor trocar o diretor, ou seja, mexer para mostrar que tem poder, tudo indica que ele não se informou e não conhece nada da história do Colégio Família Agrícola. Porque se soubesse da luta do povo para conseguir fundar e manter ia pensar muito em pedir para exonerar Cirineu da Rocha.

Até o fechamento desta matéria não conseguimos falar com André Borba prefeito de São Salvador, nem com assessoria da deputada Josi Nunes e do governador Marcelo Miranda.

Estamos aguardando a resposta.

Da redação/MN

Fotos: Arquivo CEFA

Salas equipadas no Colégio Agrícola.
Salas equipadas no Colégio Agrícola.
Ex-Coordenador Cirineu da Rocha acompanhado de um aluno.
Ex-Coordenador Cirineu da Rocha acompanhado de um aluno.
Professor Cirineu da rocha, acompanhado de servidores e alunos.
Professor Cirineu da rocha, acompanhado de servidores, alunos e da secretária de educação do estado do Tocantins: Wanessa Zavarese Sechim.
Inauguração ano passado com a presença do governador Marcelo Miranda e deputados.
Inauguração ano passado com a presença do governador Marcelo Miranda, deputados do ex-prefeito Charlles Evilacio Maciel.
Reunião com Cirineu no refeitório do colégio.
Reunião com Cirineu no refeitório do colégio.
Alunos aprendendo a trabalhar a terra.
Alunos aprendendo a trabalhar a terra.
Momento de descontração, peça teatral dos alunos.
Momento de descontração, peça teatral dos alunos.

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